Alimentos Biofortificados: Vantagens e Desvantagens
- Camily da Silva Faria
- 21 de ago. de 2022
- 4 min de leitura

Um dos principais problemas que países subdesenvolvidos e em desenvolvimento enfrentam nos dias de hoje é a desnutrição, ou seja, uma alimentação deficiente em nutrientes essenciais, o que pode trazer sérias consequências ao indivíduo. Os alimentos biofortificados surgem como uma estratégia para esse problema, visto que possuem um teor maior de micronutrientes do que os alimentos convencionais.
O processo de biofortificação possui o objetivo de tornar os alimentos básicos mais nutritivos, por meio de técnicas genéticas e agronômicas. O melhoramento genético consiste em cruzamentos de plantas da mesma espécie que geram descendentes com concentrações maiores de nutrientes (seleção de genótipo com a característica de interesse em maior grau), porém não deve ser confundido com a transgenia, já que não introduz genes de diferentes organismos na espécie a ser cultivada. O método agronômico, por sua vez, concentra-se em mecanismos de adubação da terra e das folhas, não dependendo da seleção genética prévia. Outro fator que precisa ser considerado é que não são todos os alimentos que podem ser biofortificados, apenas os que possuem maior variabilidade genética.

Os alimentos biofortificados não são substitutos dos suplementos, mas complementos nutricionais, embora não recebam tanto investimento e reconhecimento. Atualmente, a biofortificação possui como alvo populações que dependem mais fortemente de alimentos básicos e vivem a insegurança alimentar. É uma solução de baixo custo para produtores e consumidores, além de ser mais sustentável. Os programas de biofortificação existentes, a fim de tornar a aceitabilidade mais fácil, utilizam alimentos que a comunidade em questão já está acostumada e, consequentemente, não é preciso modificar seus hábitos para ter uma alimentação mais nutritiva. Porém, é importante ressaltar que não são apenas os indivíduos que vivem em uma situação de escassez de alimentos que possuem carência de nutrientes, mas também os que comem adequadamente (ou em excesso), a chamada fome oculta. Por isso, os alimentos biofortificados também seriam interessantes para combater esse outro cenário.

Como já mencionado anteriormente, para produzir os alimentos biofortificados, vários genes e processos fisiológicos determinam o conteúdo de nutrientes. Geralmente, o tempo necessário para desenvolver uma cultura viável está entre 6 a 8 anos.
No Brasil, a Rede BioFORT é o conjunto de projetos responsáveis pela biofortificação de alimentos. É coordenada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária), com o propósito de diminuir a desnutrição e garantir a segurança alimentar através do aumento dos teores de zinco, ferro e vitamina A nos alimentos. Essa Rede realiza pesquisas com milho, batata doce, abóbora e mandioca, junto com as técnicas de cruzamentos da mesma espécie.Seu alvo principal, por enquanto, são os pequenos agricultores de agricultura familiar, jovens e crianças inclusos na comunidade rural, além de povos que vivem insegurança alimentar. Os programas brasileiros de biofortificação têm o suporte do projeto HarvestPlus, um consórcio de pesquisa que aumenta a disseminação da biofortificação e transfere os produtos biofortificados aos agricultores mediante parcerias com prefeitura, governo e outras instituições.

Segundo dados da Rede BioFORT, a biofortificação de culturas de batata doce resulta em um aumento de mais de dez vezes de vitamina A quando comparado à batata doce convencional, o cultivo de feijão biofortificado apresenta quase o dobro do teor de ferro e o de arroz 20% a mais do teor de zinco, provando que, de fato, alcançou resultados significativos.
E as vantagens e desvantagens em consumir esses alimentos? Em um país como o Brasil, por exemplo, em que problemas de alimentação deficiente de nutrientes são frequentes, a biofortificação seria uma ótima opção, visto que as culturas consumidas em larga escala possuirão mais micronutrientes, maximizando a ingestão diária de minerais e vitaminas e minimizando distúrbios decorrentes da carência, como, por exemplo, a anemia, contribuindo para um cenário de segurança alimentar. Além do melhoramento convencional, há o fato de ser sustentável e de baixo custo se comparado aos programas tradicionais de fortificação de alimentos utilizados em outras partes do mundo. Já algumas das desvantagens: as sementes biofortificadas podem limitar a diversidade alimentar, a população pode ser exposta a doses altas de determinados nutrientes, causando efeitos graves à saúde, como o aumento do risco de desenvolvimento de câncer. Além disso, enriquecer um alimento com um determinado nutriente pode, consequentemente, promover a diminuição significativa dos teores de outros nutrientes.Por isso, é sempre importante ressaltar que a biofortificação é uma solução complementar com outras alternativas nutricionais, isto é, não deve ser considerada uma substituta das demais (sistema alimentar integrado).
Referências bibliográficas:
Conexão Ciência fala sobre alimentos biofortificados - Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zxYQcWFUPio
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HarvestPlus - Disponível em https://www.harvestplus.org/about/
HarvestPlus - Coordenação das atividades relacionadas ao fortalecimento de Institutos de pesquisa nacionais no Programa de Biofortificação. Disponível em https://www.embrapa.br/busca-de-projetos/-/projeto/207932/harvestplus---coordenacao-das-atividades-relacionadas-ao-fortalecimento-de-institutos-de-pesquisa-nacionais-no-programa-de-biofortificacao
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Projeto BioFORT é implementado com êxito e agricultores iniciam processo de cultivo em Vera Mendes - Disponível em https://veramendes.pi.gov.br/2021/04/26/projeto-biofort-e-implementado-com-exito-e-agricultores-iniciam-processo-de-cultivo-em-vera-mendes/
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Rede BioFORT - Disponível em https://www.embrapa.br/biofort
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