BETA ALANINA COMO SUPLEMENTO ALIMENTAR
- Anna Clara Bastos Fontinha
- 29 de out. de 2023
- 6 min de leitura

É de comum conhecimento o espaço que a procura por uma vida saudável vem ocupando na sociedade. Nos últimos anos, as pessoas estão mais preocupadas com a saúde, especialmente após a pandemia de Covid-19, quando a importância de ‘estar saúdavel’ foi evidenciada no dia a dia das pessoas (Agência Brasil, 2021). Nesse contexto, a sociedade tem buscado adotar hábitos que promovam uma vida mais equilibrada, incluindo uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios físicos. Essa conscientização da população tem impulsionado não apenas a adoção de hábitos mais saudáveis, mas também o crescimento do mercado de suplementos alimentares. Esses suplementos são vistos como uma maneira de potencializar o desempenho físico e auxiliar na recuperação muscular (Food Conection, 2022).
Os suplementos alimentares ou nutricionais são definidos como substâncias adicionadas à dieta, principalmente vitaminas, minerais, aminoácidos, ervas, extratos ou combinações de qualquer desses ingredientes, com os objetivos principais de complementar a dieta, suprindo as necessidades nutricionais dos indivíduos, ou agindo como recurso ergogênico, que nada mais é que um auxiliar para melhorar o desempenho físico (Ferreira et al., 2015). Desta forma, os suplementos nutricionais são compostos de nutrientes cujas fontes são os alimentos consumidos na alimentação habitual. No entanto, esses nutrientes são comercializados em diversas formas para utilização, como líquidos, pós, gel e cápsulas (Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, 2009).
É importante salientar que conforme a Resolução 243/18 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os suplementos alimentares são direcionados principalmente aos atletas (Brasil, 2018a). Para àqueles que praticam exercícios regularmente, uma dieta equilibrada geralmente é suficiente para manter a saúde, especialmente quando não há necessidade de otimização de desempenho devido ao menor desgaste muscular. Contudo, devido ao forte marketing externo envolvido, à pressão social para se adequar a padrões de corpo estabelecidos e a influências das mídias sociais, esses suplementos estão cada vez mais popularizados. Infelizmente, muitas vezes são utilizados de forma indiscriminada, sem orientação ou acompanhamento médico adequado (Ferreira et al., 2009). A Instrução Normativa n° 28/2018 estabelece critérios para os suplementos alimentares, incluindo uma lista de constituintes permitidos, limites de uso, alegações e requisitos de rotulagem complementar. O Anexo I dessa instrução lista os constituintes autorizados para suplementos alimentares, exceto para os suplementos alimentares indicados para lactentes (0 a 12 meses) e crianças de primeira infância (1 a 3 anos) (Brasil, 2018b).
O que é a beta alanina?
Liberada pela ANVISA para comercialização no Brasil em novembro de 2020, a beta alanina é um aminoácido não essencial produzido pelo nosso próprio corpo, sobretudo pelo fígado e, em menor quantidade, por outros órgãos, como intestino e rins, mas que também pode ser obtido na dieta por meio da ingestão de carne de porco, peixes e aves (Zandoná et al., 2018).
A beta alanina desempenha um papel crucial como precursora na síntese do peptídeo carnosina, predominantemente armazenado no músculo esquelético e também encontrado em quantidades significativas no tecido muscular, coração e algumas regiões cerebrais. Contudo, para essa síntese ocorrer, é vital a presença do aminoácido L-histidina. Embora a carnosina possa ser obtida através de certos tipos de carne na dieta, ela não é absorvida em sua forma intacta. Isso ocorre devido à ação rápida da enzima carnosinase, presente no sistema digestivo, que a hidrolisa rapidamente (Zandoná et al., 2018).

A síntese então de carnosina in vivo, em condições fisiológicas, é limitada pela disponibilidade de beta alanina, uma vez que a enzima carnosina sintase tem maior afinidade pela L-histidina do que para a beta alanina e a concentração de histidina é substancialmente maior nos meios intra e extracelular quando comparada a alanina, logo a concentração de beta alanina disponível para a síntese vai ser determinante e limitante (Cardoso et al., 2022).
Com isso, estudos apontaram que o aumento da concentração intramuscular de beta alanina seria a forma mais eficiente de se aumentar a síntese endógena de carnosina e, consequentemente, a capacidade tamponante das células musculares, devido ao seu mecanismo de ação (Ferreira et al., 2015). A beta alanina tem a sua atuação na performance esportiva bem demonstrada na literatura, sendo um dos poucos suplementos com efeito ergogênico confirmado pela ciência. Podendo ser útil em atividade com duração entre os 60 e os 240 segundos, onde há a ativação do metabolismo anaeróbio, no entanto, os efeitos da suplementação com essa substância em atividades com duração inferior a 60 segundos não são significativos (Ferreira et al., 2015).

Como a beta alanina age?
O seu efeito está estritamente relacionado às ações fisiológicas da carnosina sintetizada, pois ela é encontrada nas fibras musculares e age contra a fadiga muscular, devido ao fato de funcionar como um tampão, inibindo os efeitos negativos da liberação de íons H+ e, desta forma, agindo contra a fadiga muscular induzida por acidose.
Dentre os benefícios, destacam-se:
Melhoria do desempenho geral;
Aumento de massa corporal magra;
Retardo da fadiga neuromuscular e exaustão;
Menor tempo de recuperação entre os exercícios.
Durante exercícios de alta intensidade, ocorre a produção de metabólitos intracelulares, incluindo íons H+ resultantes da fermentação lática. Esses íons, provenientes da dissociação do ácido lático, levam a um aumento da acidez no pH intracelular. Esse processo é considerado um dos principais contribuintes para a fadiga muscular no músculo esquelético, uma vez que o aumento da acidez resulta em acidose muscular. A acidose muscular prejudica o processo de contração muscular por meio de diversos mecanismos. Quando o pH muscular diminui, ocorre a interrupção da glicólise, afetando o suprimento de energia e, consequentemente, o processo normal de contração muscular. Portanto, manter a homeostase do pH intracelular durante o exercício é crucial. Para isso, diversos sistemas tampões estão envolvidos. Isso justifica os benefícios da suplementação com carnosina, que retarda a fadiga muscular ao ajudar a manter o equilíbrio ácido-base durante a atividade física intensa (Harris et al., 2006).

Efeitos adversos e contraindicações da beta alanina
A beta alanina apresenta poucos efeitos colaterais, sendo o mais predominante a parestesia quando ingerido quantidade superiores a 800 mg, que é caracterizado pela sensação de dormência, coceira e formigamento temporários, nas regiões dos braços, mãos, pernas, pés, boca e orelhas (De Carvalho et al., 2023). Isso ocorre devido à interação da beta alanina com os receptores de nervos sensoriais na pele. Além disso, pessoas sensíveis à fórmula podem apresentar ondas de calor e uma leve ardência na pele, mas os efeitos devem passar em torno de 30 minutos (Estado de Minas, 2023).
A beta-alanina apresenta preocupações em relação à segurança do seu consumo crônico, devido à natureza não essencial desse aminoácido. Contudo, ele não deve ser ingerido por gestantes, lactantes e crianças, visto que não há ensaios clínicos confirmando a segurança nesse público. Além disso, pessoas com problemas renais ou no fígado devem consultar o médico antes de ingerir aminoácidos em doses elevadas (Trexler et al., 2015).

Beta alanina x Whey protein
Embora possam ser utilizadas em conjunto, a beta alanina e o whey protein servem para propósitos diferentes. O whey protein é uma proteína extraída do soro do leite, rica em aminoácidos essenciais, incluindo os BCAAs (Aminoácidos de Cadeia Ramificada), cruciais para o crescimento e a recuperação muscular. É frequentemente empregado para melhorar o desenvolvimento muscular, promover a reparação e facilitar a recuperação pós-treino, além de aumentar a ingestão proteica. Por outro lado, a beta alanina não contribui diretamente para o crescimento muscular, mas desempenha um papel importante na redução da fadiga muscular. Por essa razão, muitas formulações disponíveis no mercado combinam esses dois componentes, aproveitando os benefícios específicos de cada um (Carrilho et al., 2013).
Referências
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 243, de 26 de julho de 2018a. Dispõe sobre os requisitos sanitários dos suplementos alimentares. Diário Oficial da União, Brasília, DF, nº 144, p. 1, 27 de julho de 2018.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa - IN Nº 28, de 26 de julho de 2018b. Estabelece as listas de constituintes, de limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar dos suplementos alimentares. Diário Oficial da União, Brasília, DF, nº 144, p. 1, 27 de julho de 2018.
CARDOSO, Henrique Costa; CONDESSA, João Pedro Mendes; DE SOUZA, Marcio Leandro Ribeiro. A suplementação de beta-alanina na performance esportiva: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 16, n. 98, p. 169-179, 2022.
CARRILHO, Luiz Henrique. Benefits of using whey protein whey/Beneficios da utilizacao da proteina do soro de leite whey protein. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 7, n. 40, p. 195-204, 2013.
DE CARVALHO, Julio Cesar Rezende et al. EFEITOS DA BETA-ALANINA DURANTE A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS–REVISÃO DA LITERATURA. Revista de Patologia do Tocantins, v. 10, n. 2, p. 98-103, 2023.
Estado de Minas. Nutricionista esportivo explica os benefícios da beta-alanina. 2023. Disponível em:<https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2023/09/07/interna_bem_viver,1558333/nutricionista-esportivo-explica-os-beneficios-da-beta-alanina.shtml>. Acessado em: 23 de outubro de 2023
FERREIRA, Carolina Caberlim et al. Atualidades sobre a suplementação nutricional com beta-alanina no esporte. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 9, n. 51, p. 271-278, 2015.
Food Conection. Crescimento do mercado de suplementos alimentares. 2019. Disponível em:<https://www.foodconnection.com.br/materiais-para-baixar/crescimento-do-mercado-de-suplementos-alimentares>. Acessado em: 23 de outubro de 2023
HARRIS, Roger C. et al. The absorption of orally supplied β-alanine and its effect on muscle carnosine synthesis in human vastus lateralis. Amino acids, v. 30, p. 279-289, 2006.
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: Modificações Dietéticas, Reposição Hídrica, Suplementos Alimentares e Drogas: Comprovação de Ação Ergogênica e Potenciais Riscos para a Saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Vol. 15. Num. 3. 2009. p. 1-12
Trexler, E. T.; Smith-Ryan, A. E.; Stout, J.R.; Hoffman, J. R.; Wilborn, C. D.; Sale, C.;Campbell, B. International Society of Sports Nutrition Position Stand: Beta - Alanine. Journal of the International Society of Sports Nutrition.Vol. 12. Num. 1. 2015. p.30.
ZANDONÁ, Bruna Amorim et al. Efeito da suplementação de beta-alanina no desempenho: Uma revisão crítica. RBNE-Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 12, n. 69, p. 116-124, 2018.
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