A Importância do Aleitamento Materno e a Introdução Alimentar Adequada
- Ana Clara Bastos
- 2 de out. de 2022
- 9 min de leitura

Qual a importância do leite materno?
De acordo com a OMS, a exclusividade da nutrição pelo leite materno durante os 6 primeiros meses de vida, diminui os riscos de infecções respiratórias e gastrointestinais, possui efeito protetor sobre a Síndrome de Morte Súbita Infantil, reduz a incidência de alergias, obesidade, diabetes, é essencial para o desenvolvimento neurológico do lactante e para o desenvolvimento do seu sistema imunológico.
Além desses benefícios, estudos sugerem que a amamentação favorecerem um melhor desenvolvimento crânio facial e motor oral, com menor ocorrências de problemas na mastigação, deglutição e articulação dos sons e fala.
Sendo recomendado que a amamentação perdure como complemento alimentar até os 2 anos de vida.
Vale ressaltar que os benefícios relatos da amamentação são gradiente-dependentes, ou seja, quanto maior a exposição da criança ao leite materno, maiores serão os benefícios

Mas, por que o leite materno é tão importante?
O leite materno pode ser dividido em 3 estágios: colostro, leite de transição e leite madura, e durante esses estágios teremos alterações na sua composição que estariam intimamente relacionadas a demanda requerida pelo recém-nascido.
Todos os seus benefícios, não levando em consideração o vínculo mãe e filho, estão relacionados a composição do leite materno. Sabe-se que o leite materno é suficiente para suprir todas as necessidades nutricionais do recém-nascido nos primeiros meses de vida.
O leite materno é rico em proteínas sendo constituída por alfa
Por que não pode dar leite de vaca substituindo a alimentação?
A introdução alimentar: período crítico
As papilas gustativas estão sendo formadas e aperfeiçoadas. Ao inserir industrializados, as papilas gustativas vão se acostumar com aquele "sabor" doce ou salgado. E que, posteriormente irá construir o seu paladar individual, influenciando em uma alimentação pobre em bons nutrientes na juventude e vida adulta.
Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos
Riscos da inserção de alimentos processados na primeira fase da vida
Como dito, a fase nutricional primordial na vida de alguém é na infância. Dar o costume já desde cedo em uma alimentação altamente processada, com alimentos calóricos, disfuncionais e com baixa introdução de alimentos in natura, contribuirá para o aumento de peso infantil, e surgimento de doenças crônica posteriormente na vida adulta, ou até mesmo ainda na infância Artigo: A importância do aleitamento materno e a introdução alimentar adequada.
É de comum conhecimento que o ato de amamentar engloba diversos benefícios, que podem ir do âmbito nutricional do recém-nascido, até questões sociais e econômicas da sociedade. Além de, ser um meio de fortalecer o vínculo mãe e filho nos primeiros meses de vida do recém-nascido, contribuindo também para a saúde da mãe.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação deve ser exclusiva durante os primeiros 6 meses de vida, sendo necessário complementá-la até os 2 anos, mas ainda mantendo a amamentação. Diversos estudos realizados ao longo das décadas apontam que o leite materno possui inúmeros componentes e mecanismos capazes de proteger a criança de diversas patologias, auxiliando no desenvolvimento do sistema de defesa do bebê e causando uma redução da mortalidade infantil.

Qual a importância do leite materno?
O leite materno diminui o risco de infecções respiratórias e gastrointestinais, reduz a incidência de alergias, obesidade, diabetes, promove o desenvolvimento da cavidade bucal e é essencial para o desenvolvimento neurológico do lactente. Além dos benefícios que são observados para a mulher na prática de aleitamento materno, que são; menor sangramento pós-parto e, consequentemente, menor incidência de anemia, menor prevalência de câncer de ovário, endométrio e mama e melhor homeostase da glicose em mulheres que amamentam trazendo proteção contra diabetes para ela e para o bebê.
Composição do leite materno e sua relação com os benefícios
O leito materno é composto por macro e micronutrientes e estão intimamente relacionados aos diversos benefícios observados na literatura científica. A água é o maior componente e desempenha papel fundamental na regulação da temperatura corporal, nela estão dissolvidas ou suspensas macro e micronutrientes, como: proteínas, compostos nitrogenados não proteicos, carboidratos, minerais e vitaminas hidrossolúveis.
Antes de se aprofundar em cada componente e sua relação com a saúde do lactente, é importante ressaltar que o leite materno apresenta 3 estágios de maturação, e eles são adequados para cada fase do recém-nascido, com a oferta adequada de nutrientes para o bebê naquela fase.
Na primeira semana pós-parto, o leite materno, denominado colostro, é rico em proteínas protetoras, se destacando a imunoglobulina secretora A, que age contra infecções e alergia alimentar, uma vez que o IgA no leite humano é um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, produzindo anticorpos contra agentes infecciosos com os quais já teve contato, proporcionando, dessa maneira, proteção a criança contra germes prevalentes no meio em que a mãe vive. Além disso, o leite materno contém outros fatores de proteção, tais como anticorpos IgM e IgG, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, lisozima e fator bífido. Esse último favorece o crescimento de uma bactéria não patogênica que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia. Após o 25° dia de parto, o leite se torna maduro, contendo mais proteínas nutritivas que o colostro. Neste intervalo se tem o leite de transição, que será do 6º ao 15º dia, que possui menos proteínas e mais gorduras e carboidratos.
O leite disponibiliza quantidades suficientes de lipídios, compostos principalmente por triglicerídeos, que aumentam com o tempo de lactação. A lactose é o principal carboidrato do leite humano, ele favorece a absorção de cálcio e fornece galactose para a mielinização do sistema nervoso central, auxiliando no desenvolvimento neurológico da criança, além de ser uma fonte de energia. A principal proteína do leite materno é a lactoalbumina, enquanto a do leite de vaca é a caseína, proteína essa de difícil digestão para a espécie humana, por isso, não é recomendado a substituição do leite materno pelo leite de vaca, e nem misturar os dois. E, por último, o leite humano fornece todas as vitaminas, minerais e micronutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento infantil, como sódio, potássio, magnésio, vitaminas B12, A, C e E.

Qual a importância da introdução alimentar adequada?
Todos esses componentes mencionados vão auxiliar e promover o desenvolvimento do lactente, sendo que o seu uso exclusivo é suficiente nutricionalmente, até os 6 meses. Após esse período, observa-se que o leite já não demanda de todos os nutrientes necessários para a evolução no crescimento da criança, tendo então que completar a alimentação, para não haver carência nutricional.
Como dito, após os 6 meses, a criança deve iniciar a inclusão de alimentos semissólidos e pastosos, contudo, é importante se atentar para quais alimentos estão sendo ofertados e seus valores nutricionais e energéticos, sendo esta fase primordial para uma inclusão alimentar correta que irá refletir posteriormente.
De acordo com a OMS, o desmame ocorre naturalmente após os dois anos de vida, mas o órgão ressalta a importância em inserir alimentos complementares após o ciclo exclusivo do aleitamento materno, respeitando a margem de 6 meses. Estudos apontam, que a inserção precoce de alimentos antes dos 6 meses não traz vantagens, e inclusive pode haver prejuízos à saúde da criança, como:
maior número de episódios de diarreia,
maior número de hospitalizações por doenças respiratória,
risco de desnutrição, se os alimentos introduzidos forem nutricionalmente inferiores ao leite materno,
menor absorção de nutrientes importantes do leite materno, como ferro e zinco.
A introdução de outros alimentos na alimentação infantil deve ocorrer em momento oportuno, em quantidade e qualidade que se adequem às fases do desenvolvimento infantil. A fase de introdução tem grande importância, pois é nela que ocorre a formação dos hábitos alimentares e a promoção da saúde, pois além de proteger a criança de deficiências de micronutrientes, a protege também de doenças crônicas na idade adulta. Nesta fase, a criança irá moldar seus hábitos alimentares, uma vez que, é neste momento que o paladar está sendo desenvolvido e maturado, logo é importante apresentar novos sabores e texturas, evitando alimentos ultra processados, pois assim a recusa posterior a alguns alimentos e preparações irá ser bem menor.

Quais são os riscos da introdução alimentar inadequada?
Como dito anteriormente, os benefícios da introdução alimentar adequada são diversos, uma vez que nesta fase será moldada os hábitos alimentares que a criança poderá posteriormente levar para a vida toda. As situações mais comuns decorrentes da alimentação complementar inadequada são: anemia, deficiência de vitamina A, outras deficiências de micronutrientes, excesso de peso e desnutrição. A introdução alimentar inadequada quando feita precocemente, antes do completo desenvolvimento fisiológico, pode aumentar o risco de contaminações e reações alérgicas, interferir na absorção de nutrientes importantes do leite materno e implicar em risco de desmame precoce. E, se ocorrer tardiamente, pode-se ter uma desaceleração do crescimento e aumento do risco de deficiência de nutrientes, uma vez que o leite materno, a partir do sexto mês, não atende mais às necessidades energéticas da criança, e de micronutrientes como ferro, zinco, fósforo, magnésio, cálcio e vitamina B6.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada no Brasil em 2013 revelam alta prevalência de comportamentos alimentares não saudáveis na infância, dentre eles destacavam-se sucos adoçados, comida de sal e papa industrializada. Estudos constataram que a introdução de alimentos ultra processados precocemente na dieta infantil reflete sobre o padrão dietético contemporâneo, constatando o consumo de suco industrializado, doces, biscoitos e macarrão instantâneo nos primeiros 12 meses de vida. A ingestão de alimentos com alta concentração de açúcares e gorduras está associada à ocorrência de excesso de peso e cárie em crianças, não sendo recomendado oferecer açúcar a crianças menores de 2 anos. Foi relatado que outros autores observaram também um alto consumo de frituras, refrigerantes, doces, guloseimas e sal na infância. Além de ter sido observado a introdução precoce para líquidos, como a própria água ou sucos naturais, mel, açúcar e guloseimas, próxima da adequação para alimentos sólidos e semissólidos.
O mel, embora seja um produto natural, não é recomendado oferecê-lo a crianças menores de 2 anos. Pois, o mel contém os mesmos componentes do açúcar, já justificando o motivo para evitá-lo. Mas, além disso, há um risco considerável do mel estar contaminado por Clostridium botulinum, bactéria associada ao botulismo, e crianças menores de 1 ano são menos resistentes a essa bactéria, podendo causar o botulismo infantil, uma doença grave que pode causar paralisia dos membros e morte súbita.

Como garantir a introdução alimentar adequada?
De acordo com o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos, é importante após os 6 meses apresentar à criança os alimentos, e permiti-la conhecer novos sabores, amargos, cítricos, e suas diferentes texturas, possíveis preparações e cortes. Deve-se evitar alimentos com aditivos alimentares, como corantes, estabilizantes, conservantes, aromatizantes, realçadores de sabor e adoçantes, que se enquadram em alimentos ultra processados, que ainda podem conter açúcar, sal e gordura em excesso. Sem contar, que todos esses aditivos, quando inseridos muito precocemente acabam prejudicando a aceitação dos alimentos in natura, uma vez que mascaram o sabor real do alimento, tornando-o mais “aceitável” e saboroso.
Além disso, o guia alimentar recomenda evitar papinhas industrializadas, pois, embora existam marcas que não apresentem aditivos em sua composição, o guia enumera diversos motivos para elas não serem recomendadas, como:
a textura não favorece o desenvolvimento da mastigação,
são compostas por diferentes alimentos misturados no mesmo potinho, dificultando a percepção dos sabores,
não favorece a adaptação/reconhecimento do tempero da comida da família,
as vitaminas e minerais dos alimentos in natura são mais bem aproveitados pelo organismo do que as vitaminas e minerais adicionados nas papinhas
O guia demonstra também a importância de ler os rótulos dos alimentos, principalmente a lista de ingredientes, para assim conseguir identificar, pela quantidade de ingredientes, se o alimento é ultra processado. Ele apresenta como exemplo a comparação do macarrão instantâneo e o macarrão tradicional, em que muitas mães compram o instantâneo imaginando ser igual, só que com um tempo de preparo menor. Contudo, ao analisar a lista de ingredientes, observa-se que o macarrão instantâneo possui uma infinidade de aditivos, enquanto o tradicional apenas água, farinha e ovos. Por isso, aponta que, se o produto tiver cinco ou mais ingredientes e se existirem ingredientes com nomes estranhos, pouco conhecidos ou que nunca tenham ouvido, é muito provável que o produto seja ultra processado, sendo então recomendado não inseri-lo na dieta.
Quais alimentos são recomendados?
Como apresentado, deve-se priorizar alimentos in natura e minimamente processados nos primeiros 2 anos de vida da criança. Após os 6 meses, deve ser introduzido a dieta da criança alimentos pastoso e semissólidos, em seguida deve-se evoluir para alimento picados em pedaços pequenos, raspados ou desfiados, para que assim a criança adquira a habilidade de mastigar corretamente, e evitar quadros de engasgamento. Devendo os alimentos terem o mínimo de sal e temperos, dando preferência para temperos naturais e caseiros, e a oferta do alimento deve ser feita após a amamentação, para que a criança consiga adquirir os limites de saciedade e fome.
Pode ser dado alimentos de diversos grupos, como dos; cereais, raízes e tubérculos, feijões, frutas, dando total preferência para a fruta na sua forma íntegra, sem ofertá-la em forma de suco, legumes e verdura, carnes e ovos, se atentando para a mastigação da criança e qual a forma e textura do alimento ela consegue comer. E, conforme a criança for crescendo, aumentar a quantidade e o tamanho dos alimentos, diversificando as formas de preparos, para que a criança consiga conhecer as diferentes texturas que um mesmo alimento possa ter. Devendo ofertar o alimento em sua forma integral, não oferecendo industrializados à base de tubérculos e raízes, ou alimentos ultra processados “destinados” a crianças, por exemplo. E após os 2 anos, outros alimentos podem ser inseridos, como geleias caseiras, pães caseiros e alguns tipos de processados, mas recomenda-se sempre priorizar a alimentação saudável ensinando a criança a consumir alimentos in natura na maior parte das refeições, em um ambiente alimentar saudável, em que possa tocar o alimento, sentindo-o com calma e degustando-o sem que haja distrações de aparelhos eletrônicos como por exemplo: Tv, celular e tablet.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde.; Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos., Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Brasília/DF, 2019
COSTA, LKO; QUEIROZ, LLC; QUEIROZ, RCCS; RIBEIRO, TSF; FONSECA, MSS. Importância do aleitamento materno exclusivo: uma revisão sistemática da literatura Rev. Ciênc. Saúde, São Luís, v.15, n.1, p. 39-46, jan-jun, 2013.
FERREIRA, L. V.; A importância do aleitamento materno: uma revisão de literatura. Universidade Federal da Paríba; Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Nutrição., João Pessoa/PB, 2017
LOPES, W. C., MARQUES, K. S.; OLIVEIRA, C. F.; RODRIGUES, J. A.; et al.; Alimentação de crianças nos primeiros dois anos de vida; Revista Paulista de Pediatria., São Paulo/SP, 2018
Comments