Consumo de Gafanhotos no Continente Africano
- Isabelle de Morais Jasmim
- 20 de jul.
- 5 min de leitura

Você já imaginou consumir gafanhotos diariamente? Já ouviu falar do gafanhoto de chifres longos? Você sabia que esses insetos possuem rico valor nutricional e ainda alto valor de mercado?
Venha conhecer um pouco mais sobre o gafanhoto de chifres longos (Ruspolia differens Serville), que é considerado uma iguaria saborosa em mais de 20 países africanos. Além de uma alternativa para suprir a ampla insegurança alimentar e nutricional presente nesse continente. Nesse texto vamos conhecer as características nutricionais, entender o contexto cultural em que está inserido e os aspectos econômicos em torno desse inseto comestível, exótico, porém com um potencial incrível! Venha descascar a ciência com a gente!
O gafanhoto de chifres longos, comumente chamado de “senene” na Tanzânia, é um inseto comestível ortóptero da família Tettigoniidae, nativo da África Subsaariana. O inseto é uma iguaria comum nas comunidades que vivem na região do Lago Vitória, como os Haya da Tanzânia, os Luo do Quênia e os Baganda de Uganda, desde tempos ancestrais, e representa de 5 a 10% da ingestão de proteínas na região.
Devido à sua ocorrência ser altamente sazonal, e a sua coleta para fins comerciais ser comumente realizada com armadilhas luminosas não tão eficientes e projetadas localmente, sua utilização sustentável como importante fonte alimentar é limitada. Sendo tópico de diversas pesquisas atuais a fim de melhorar a forma de processamento e coleta para tornar possível um melhor aproveitamento do rico potencial que esse inseto possui.
Ciclo de vida e criação

O gafanhoto de chifres longos é uma espécie amplamente polimórfica, ou seja, pode apresentar diferentes fenótipos dentro de uma população, existem seis morfos de cores: marrom, verde, marrom listrado de roxo, verde listrado de roxo, marrom com manchas roxas e verde com manchas roxas. É considerado uma espécie grande com comprimento total de 52–60 mm e possui asas longas.
O conhecimento indígena sobre quando coletar, onde coletar, como encontrar e como preparar diferentes espécies de insetos, é aprendido por meio da experiência e transmitido oralmente de uma geração para a outra. O que evidencia a importância cultural do manejo e consumo desse inseto.
A captura era feita anteriormente de maneira manual em plantações, campos de grama e arbustos de terras agrícolas pela manhã para consumo doméstico. No entanto, no contexto atual, enxames de gafanhotos são colhidos em massa usando postes de luz e armadilhas luminosas à noite em centros urbanos. Durante a colheita, os gafanhotos de chifres longos são atraídos pela luz emitida pelas lâmpadas de mercúrio, colidem e deslizam sobre as chapas de ferro brilhantes e, finalmente, se acumulam nos tambores.
A comercialização de Ruspolia differens é considerada um negócio lucrativo para a população da região, durante as temporadas de enxameação, que ocorrem principalmente entre novembro e dezembro (a principal temporada) e abril e maio na Uganda. Empregando diferentes pessoas ao longo da cadeia de valor desse inseto, dos pontos de coleta, os atacadistas compram gafanhotos e vendem para varejistas que finalmente vendem para os consumidores . Sendo a renda média gerada pelos comerciantes por temporada cerca de US$ 223,5.
No entanto, diversos desafios são enfrentados pelos comerciantes e coletores, que sofrem com altos custos de instalação e contas de energia elétrica, exposição ao mercúrio liberado por lâmpadas mal descartadas, aumento do custo operacional devido ao uso de materiais como óleo de cozinha, farinha de mandioca e água para manter os gafanhotos contidos, dentre outros.
Características nutricionais

O Ruspolia differens possui um valor nutricional extremamente rico e ainda é considerado medicamente útil pela população local, utilizado contra doenças como diabetes, icterícia, pressão alta e complicações estomacais. Com a sua composição química/nutricional podendo variar devido a diversos fatores como: a estação do ano e a área geográfica de origem.
De forma geral, esse inseto é rico em proteínas, gordura e aminoácidos essenciais, como leucina, lisina e valina, que são os mais abundantes. Também fornece grandes quantidades de vitaminas essenciais como a vitamina A, vitamina E, niacina, riboflavina, vitamina C, ácido fólico e piridoxina, juntamente de minerais como: o potássio, fósforo, cálcio, ferro e zinco. Além da abundância dos ácidos graxos insaturados: ácido oleico, ácido linoleico, ácido palmitoleico e ácido α-linolênico.
A Ruspolia differens também possui alto teor de flavonoides e polifenóis, que são componentes com propriedades antioxidantes, antibacterianas, antivirais, anti-inflamatórias em humanos, em níveis comparáveis aos encontrados em frutas e vegetais.
Formas de consumo

Estes insetos comestíveis quando colhidos de maneira selvagem podem estar associados a contaminantes microbianos, parasitas, alérgenos, antinutrientes, resíduos de pesticidas e fungos, podendo então causar prejuízos à saúde. Para garantir a segurança microbiana, aumentar a vida útil e melhorar a experiência sensorial eles são comumente processados. O que diminui a percentagem de seus componentes benéficos. Na África, os métodos mais comuns de processamento são: fritar, secar, assar, defumar, ferver, tostar e cozinhar no vapor.
O gafanhoto de chifres longos é considerado uma iguaria principalmente em regiões da Uganda e Tanzânia, sendo consumido tanto como lanche quanto como alimento representando o principal inseto comestível comercializado na região. É vendido predominantemente em mercados informais e ao longo das estradas por vendedores ambulantes de comida.
E aí, gostou de saber mais sobre o consumo do gafanhoto de chifres longos? Gostaria de provar? Já compartilhe essa descoberta com um amigo, até a próxima!
Referências
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