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O Peixinho-da-horta e Seus Benefícios

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    Ciência Descascada
  • há 3 dias
  • 5 min de leitura
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Da Pré-história ao prato: a relação humana com as plantas

Desde os tempos pré-históricos, o ser humano utiliza as plantas como fonte de alimento, aproveitando seus diversos componentes nutricionais como proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas. Atualmente, as plantas continuam a ser uma importante alternativa de subsistência para comunidades rurais, reforçando seu papel fundamental na segurança alimentar e nutricional.

 

O que são as famosas PANCs:

O termo PANC refere-se a plantas comestíveis, sejam cultivadas ou de crescimento espontâneo, nativas ou exóticas, que não fazem parte do cardápio habitual da maioria da população. Entre seus principais benefícios destacam-se o baixo custo de produção, o fácil manejo, o crescimento em diferentes ambientes e o alto valor nutricional, oferecendo uma alternativa sustentável e saudável para diversificação alimentar.

 

Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs)

O Brasil, conhecido por sua rica biodiversidade, possui inúmeras espécies de plantas comestíveis cultivadas ou de crescimento espontâneo, nativas ou exóticas, que não fazem parte do cardápio habitual da maioria da população e são chamadas de:Plantas Alimentícias Não Convencionais. Entretanto seu consumo ainda é limitado devido à falta de conhecimento sobre suas propriedades nutricionais e sobre formas adequadas de preparo. A divulgação dessas informações auxilia no conhecimento das PANCs, especialmente para diferentes comunidades que poderiam se beneficiar delas. No texto de hoje será abordado o Peixinho-da-Horta. Você conhece?

 


Peixinho-da-Horta: a planta que tem sabor de peixe!

O peixinho-da-horta (Stachys byzantina), também conhecido como Lambari de Folha ou Pulmonária. Pertencente à família Lamiaceae, essa planta é originária da Turquia e do sudoeste da Ásia e ganhou espaço no Brasil, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.

Suas folhas são verdes prateadas, com textura macia e aveludada. A planta apresenta ciclo de vida longo, sendo perene e se adapta melhor a climas amenos, embora possa ser cultivada o ano todo. Uma ótima opção para quem quer começar a cultivar em casa! Sua baixa exigência em manejo, alta resistência a pragas e doenças (graças ao alto teor de compostos fenólicos) e o ciclo rápido de colheita tornam seu cultivo viável para pequenos produtores, tanto em áreas rurais quanto urbanas de baixa renda

 

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Como preparar o peixinho-da-horta?

O nome popular “peixinho-da-horta” deve-se ao sabor das folhas, que lembra o peixe lambari. As formas de preparo mais populares incluem o consumo das folhas fritas, empanadas ou à milanesa, o que atrai muitos consumidores que buscam novas experiências gastronômicas. Além disso, seu teor proteico torna a planta uma opção interessante para dietas vegetarianas e veganas.

 

Composição Nutricional e Compostos Bioativos:

Do ponto de vista nutricional, o peixinho-da-horta apresenta uma composição rica e diversificada. Suas folhas contêm cerca de 49% de fibras, 19,5% de proteínas e 10,7% de carboidratos. O teor de potássio é expressivo, com aproximadamente 1.900,5 mg por 100g de folhas, enquanto o ferro atinge 0,49 ± 0,06 mg por 100g. Além disso, a planta fornece aminoácidos essenciais como treonina, triptofano, fenilalanina, tirosina e aminoácidos sulfurados, em quantidades adequadas às necessidades nutricionais de crianças e adultos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os compostos bioativos incluem flavonas, carotenóides e óleos essenciais com reconhecida ação antioxidante e antimicrobiana.

 

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Ingrediente funcional e medicinal

O peixinho-da-horta (Stachys byzantina) destaca-se como um ingrediente funcional promissor devido à presença de compostos bioativos como flavonoides, polifenóis, terpenóides e taninos, que conferem à planta ações antioxidantes, anti-inflamatórias e antimicrobianas. Estudos fitoquímicos apontam que o extrato da planta possui elevada capacidade de neutralizar radicais livres e inibir a peroxidação lipídica, o que o torna um candidato para formulações voltadas à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. Além disso, sua ação antimicrobiana tem sido investigada em contextos de conservação alimentar e formulações naturais contra bactérias patogênicas. Essas propriedades impulsionam o uso do peixinho da horta em alimentos funcionais, como chás, cápsulas, bebidas antioxidantes, snacks naturais e extratos concentrados. Por sua origem vegetal e ausência de compostos alergênicos comuns, o peixinho também é considerado um ingrediente seguro para aplicação em produtos voltados a públicos com dietas restritivas ou alergias alimentares. A combinação entre valor nutricional, bioatividade e versatilidade culinária posiciona o peixinho-da-horta como uma importante planta PANC com potencial de inovação nos setores de nutrição, gastronomia funcional e fitoterapia.

 

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Muito além da cozinha: conhecimento popular

Além da sua utilização na alimentação, o peixinho-da-horta é amplamente empregado na medicina popular. Tradicionalmente, suas folhas são usadas no tratamento de doenças pulmonares, o que lhe rendeu um de seus nomes populares, “Pulmonária”. Para indivíduos hipertensos, o consumo da planta é indicado devido ao alto teor de potássio e baixo teor de sódio, que contribuem para a regulação da pressão arterial. Outros usos medicinais incluem o tratamento de feridas, dores abdominais, além de sua ação desinfetante, antifebril e antiespasmódica, com a presença de 21 compostos identificados no óleo essencial extraído de suas folhas.


Apesar de seus diversos benefícios, o conhecimento popular sobre o peixinho-da-horta ainda é limitado. Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), no campus de Paranavaí, mostrou que apenas 33,8% dos entrevistados conheciam alguma PANC, e apenas 3,1% tinham conhecimento específico sobre o peixinho-da-horta. Esses dados reforçam a necessidade de ampliar a divulgação de informações sobre as PANCs.

 

Hora de colocar as PANCs no prato!

O Brasil está caracterizado pelo aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e pela redução da ingestão de frutas e hortaliças, especialmente as não convencionais. Nesse cenário, as PANCs, como o peixinho-da-horta, surgem como uma alternativa viável para melhorar a qualidade alimentar, promover a saúde e incentivar práticas agrícolas mais sustentáveis. Para isso, a disseminação de informações sobre suas propriedades nutricionais, formas de preparo e benefícios à saúde é fundamental para ampliar sua aceitação e consumo na alimentação cotidiana.

 

Então, agora que você conhece mais sobre o peixinho-da-horta, que tal dar uma chance para essa folhinha saborosa, nutritiva e cheia de benefícios?

 

Experimente e se surpreenda com o sabor e, se gostar, quem sabe essa seja só a primeira de muitas PANCs na sua vida!

 

Referências:

 

AZEVEDO, Thaise Duda de. Propriedades nutricionais, antioxidantes, antimicrobianas e toxicidade preliminar do peixinho da horta (Stachys byzantina K. Koch). 2018. 122 f. Dissertação (Mestrado em Alimentação e Nutrição) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/60199.

 

BAHADORI, M. B.; KIRKAN, B.; SARIKURKCU, G. Essential oils of hedgenettles (Stachys inflata, S. lavandulifolia, and S. byzantina) have antioxidant, anti-Alzheimer, antidiabetic, and anti-obesity potential: A comparative study. Industrial Crops and Products, v. 145, p. 112089, mar. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.indcrop.2020.112089 

 

BARREIRA, T. F.; PAULA-FILHO, G. X.; RODRIGUES, V. C. C.; ANDRADE, F. M. C.; SANTOS, R. H. S.; PRIORE, S. E.; PINHEIRO‑SANT'ANA, H. M. Diversidade e equitabilidade de Plantas Alimentícias Não Convencionais na zona rural de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. 2018. Monografia (Graduação em Nutrição) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/58899

 

GIANNONI, Juliana Audi et al. Stachys byzantina: avaliação do conhecimento populacional desta planta alimentícia não convencional. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 9, n. 1, p. 4341-4357, jan. 2023. DOI: 10.34117/bjdv9n1-299.

 

MATHIAS, Antonio Sérgio et al. O uso de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) em uma Unidade Básica de Saúde do município de São José dos Campos, São Paulo, Brasil. Pubsaúde, v. 9, p. a340, 2022. Disponível em: https://dx.doi.org/10.31533/pubsaude9.a340.

 

NEVES, Bianca Eduarda; NICOLETI, Eduarda Zago; SILVA, Giovanna Cardoso Reis da. Produto pseudocereal proteico com sabor semelhante a peixe a partir da planta Stachys byzantina (Peixinho-da-horta). Orientador: Elias Severo da Silva Junior. Campinas: Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado, 2024. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso Técnico em Alimentos Integrado ao Ensino Médio) — ETEC Conselheiro Antônio Prado, 2024.

 

SANTOS, A. de L. et al. Plantas alimentícias não convencionais: revisão. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, Umuarama, v. 26, n. 3, p. 1068-1090, set./dez. 2022. DOI: https://doi.org/10.25110/arqsaude.v26i3.2022.8995.

 

SILVA, Caroliny Fernanda Batista da. Avaliação in vitro de extratos de peixinho da horta (Stachys byzantina) obtidos por meio de solventes eutéticos profundos naturais. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia de Alimentos) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Campo Mourão, 2021. Disponível em: https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/27241

 

ZANARDO, Franciele Mara Lucca; FARIAS, Beatriz Wolf. Resgate e utilização de plantas alimentícias não convencionais: aspectos sociais e nutricionais. Expressa Extensão, v. 28, n. 3, p. 13–20, set./dez. 2023. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/expressaextensao

 
 
 

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