Nos dias de hoje, algumas pessoas sentem a necessidade de uma energia extra para quase tudo o que fazem em suas vidas: estudos, treinos, festas, entre outras situações. Um dos jeitos encontrados para “dar conta de tudo” e não serem impedidas pelo cansaço foram consumir as bebidas energéticas.
As bebidas energéticas, como conhecemos, surgiram no Japão no ano de 1962, sendo vendidas em frascos. Com o passar dos anos, tornaram-se populares entre os empresários japoneses, pois precisavam enfrentar viagens de negócios muito exaustivas ao redor do mundo. Nesse sentido, começaram a chamar a atenção no Ocidente e, em 1997, chegaram aos EUA (até então, a Coca-Cola era o que fazia sucesso e continha certos níveis de cafeína, quase funcionando como um energético). A partir daí, a comercialização aumentou em larga escala.
A portaria de nº 868 de 1998, regulamentou a produção e venda destas bebidas, como compostos líquidos prontos para consumo. Estas bebidas energéticas não contêm álcool ou contém menos de 0,5%, e, de modo geral, possuem combinações de açúcar, cafeína (limite máximo de 350 mg/ L), taurina (limite máximo de 400 mg/100 mL), vitaminas do complexo B, além de aromatizantes e corantes. Possuem sabores variados e, atualmente, algumas estão sendo feitas com adoçante, ao invés de açúcar.
O setor de bebidas energéticas está em crescente expansão no Brasil, sendo a pioneira Red Bull desde 1999 no país. Os energéticos são comercializados sob a promessa de aumentar o desempenho, a concentração e a produtividade (o famoso slogan "Red Bull te dá asas”, por exemplo, implica que você será capaz de fazer qualquer coisa após consumi-los).
As bebidas energéticas possuem como componentes principais: açúcar, taurina, cafeína e vitaminas do complexo B, que desempenham funções diferentes no organismo. O açúcar funciona como fonte de energia, pois aumenta, após seu consumo, os níveis de glicose no sangue e, posteriormente, chega no cérebro e fígado. A taurina é um aminoácido não essencial, isto é, pode ser produzido pelo organismo, e obtido através da alimentação (peixes e carnes, por exemplo). Este aminoácido participa de funções fisiológicas importantes, como antioxidante, desintoxicante, atua na modulação dos níveis intracelulares de cálcio, além de ser benéfico para o sistema cardiovascular. A cafeína é uma xantina, que tem efeito na estimulação do sistema nervoso central, assim, o indivíduo sensível pode ficar mais concentrado e menos cansado. As vitaminas do complexo B também contribuem para a redução do cansaço e da fadiga.
Além desses componentes principais, podem ser adicionados: glucoronolactona (metabólito formado a partir da glicose, com função desintoxicante – limite máximo permitido 250 mg/100 mL) e inositol (isômero de glicose que estimula a queima de gordura, auxilia na homeostase de glicose, sensibilidade à insulina e em alterações metabólicas – limite máximo permitido 20 mg/100 mL).
As diferentes marcas de energéticos possuem, basicamente, a mesma composição citada, com exceção de algumas que substituem o açúcar por adoçante. Como resultado, tem-se uma bebida agradável ao paladar.
No atual mundo globalizado, os energéticos tornaram-se cada vez mais populares, pois, entre os motivos que os levam a ser consumidos, destacam-se: fonte rápida de energia, redução da fadiga, melhora no desempenho tanto físico quanto mental, estimulação do metabolismo, aumento da concentração e viabilização de uma sensação de bem-estar. Esses pontos positivos são graças às ações dos seus componentes combinados, principalmente a da cafeína. Após o consumo da bebida energética, cada componente será metabolizado e apresentará um efeito no organismo.
Primeiramente, a cafeína é absorvida pelo trato gastrointestinal e, 45 minutos depois da sua ingestão, a cafeína atinge seu pico, agindo no sistema nervoso central e inibindo a adenosina no cérebro, a qual era responsável pelo sono fisiológico. A adrenalina é liberada, aumentando o estado de alerta e reduzindo a sensação de fadiga. Em seguida, a taurina faz a resistência do indivíduo aumentar, de modo que não sinta o cansaço. Já as vitaminas do complexo B contribuem para evitar a sensação de exaustão e os açúcares servem como fonte de energia.
Esses efeitos duram, mais ou menos, uma hora depois da ingestão da bebida. Após esse tempo, o corpo sofre uma queda dos níveis de energia, diminuindo esses sintomas.
Consumir energéticos pode ser considerado seguro e beneficiar quem os ingere, desde que seja feito seguindo as recomendações da OMS, a qual orienta que o ideal é não mais do que uma lata de energético por dia. Os problemas relacionados a eles surgem quando consumidos em excesso, levando em consideração como seus componentes e suas concentrações agem no organismo.
O excesso de bebidas energéticas pode gerar ansiedade, insônia, dores de cabeça, tremores e batimentos cardíacos irregulares, por exemplo. Grande parte dessas consequências possuem como causa principal a intoxicação aguda pela cafeína, que é considerada uma droga, visto que a definição de droga é toda substância que modifica as funções normais do organismo.
Para garantir a segurança dos consumidores, existem limites máximos de ingestão diária de cafeína: para adultos é de 400 mg/dia, crianças não devem consumir cafeína e dos 12 aos 19 anos, o consumo não deve passar de 100 mg/dia (incluindo qualquer tipo de bebida ou alimento que possua cafeína, como por exemplo, refrigerantes de cola e chocolate).
Por ser uma droga, a cafeína, quando consumida em excesso, contribui para o aumento da tolerância de seus efeitos e pode causar dependência. Logo, se um indivíduo que consome energético em excesso diminuir sua ingestão bruscamente, poderá passar por um processo de abstinência, decorrente da queda do nível de cafeína com o qual estava acostumado, podendo apresentar dores de cabeça, ansiedade, nervosismo e letargia. Esses sintomas podem perdurar por dias, causando irritação, dificuldades para fazer suas atividades, náuseas, insônias e palpitações.
Além disso, para aqueles que sofrem de hipertensão, arritmia cardíaca, distúrbio do sono, problemas gástricos e cardiovasculares é recomendado que não consumam energéticos, visto que a cafeína pode piorar esses problemas com toda a sua ação estimulante.
Outro problema cada vez mais recorrente, principalmente entre os adolescentes, é a mistura de energético com álcool (ambos, devido à falta de regulamentação, são de fácil acesso ao público jovem). Por um lado, a cafeína serve como um estimulante, já o álcool é um depressor. Os efeitos de embriaguez do álcool podem ser camuflados, mas os efeitos do álcool em si continuam presentes. Logo, essa mistura pode levar a comportamentos de alto risco, como dependência e elevação do álcool sanguíneo a níveis preocupantes. Além disso, ambos são diuréticos, isto é, aumentam o fluxo urinário e podem levar à desidratação.
Portanto, percebe-se que existem muitas formas de se beneficiar com os energéticos, desde que sejam consumidos com moderação, nunca em excesso. Dessa forma, a saúde não poderá ser prejudicada. Existem outras formas de se manter bem e concentrado quando o efeito dessa bebida passar, como ter uma boa noite de sono, praticar atividades físicas e banhos gelados.
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