Conheça o cará-moela: um tubérculo aéreo de grande valor nutricional e cultural
- Maria Fernanda Felipe de Carvalho
- 2 de nov.
- 3 min de leitura

O cará-moela, ou cará-borboleta, é um tubérculo comestível da espécie Dioscorea bulbifera, que recebe popularmente esses nomes devido ao formato semelhante a uma moela de galinha ou a uma borboleta com as asas abertas. É uma planta trepadeira pertencente à família Dioscoreaceae, a mesma dos inhames convencionais, e se destaca pelo crescimento aéreo, pois produz tubérculos que se desenvolvem nas axilas das folhas, ficando suspensos nos ramos. Por essa característica, também é conhecido como cará-do-ar, cará-de-corda, inhame-do-ar ou batata-aérea.
A espécie é originária da África e da Ásia tropical, mas foi introduzida e bem adaptada em regiões de clima quente, como o Brasil. Seu cultivo é favorecido pela resistência a pragas, pela facilidade de manejo e pela boa adaptação a diferentes tipos de solo e condições climáticas. O cará-moela desenvolve-se melhor em locais de clima quente e úmido, com boa disponibilidade de água, podendo ser plantado durante todo o ano nessas regiões. O cultivo ocorre principalmente em pequena escala, destinado ao consumo familiar ou à comercialização em feiras locais, visto que não é um alimento tão consumido, devido a sua aparência que não é tão atrativa.

A planta apresenta crescimento perene, com caule cilíndrico que se enrola e folhas simples, alternadas e em forma de coração. Sua principal peculiaridade é a formação dos tubérculos aéreos (bulbilhos), que variam em formato e tamanho, e que são as partes que permitem à planta se reproduzir e crescer novamente, além de serem também a porção mais aproveitada na alimentação. A colheita ocorre, em média, quatro meses após o plantio, quando os bulbilhos amadurecem e se desprendem naturalmente da planta. Quando armazenados em locais secos e ventilados, podem ser conservados por até três meses com mínimas perdas nutricionais.

Do ponto de vista nutricional, o cará-moela é um alimento rico em carboidratos complexos, fibras, vitaminas do complexo B (como tiamina, riboflavina e niacina), vitamina A e vitamina C, além de conter minerais importantes, como cálcio, magnésio, ferro, sódio e potássio (SILVA et al., 2020; MULLER, 2017). Em análises comparativas realizadas pela Universidade Federal do Tocantins, observou-se que o cará-moela apresenta 70,45% de umidade, 2,12% de proteínas, 2,54% de fibras, 1,09% de cinzas, 23,5% de carboidratos e valor energético médio de 105 kcal por 100 g, sendo menos calórico e com maior teor de fibras que o cará convencional (126,88 kcal por 100 g e 1,85% de fibras), o que o torna uma alternativa interessante para dietas equilibradas e de controle calórico (SILVA et al., 2020). Os polissacarídeos presentes na espécie também são considerados como importante fonte de energia e apresentam função estrutural, fator que interfere na textura e nas propriedades tecnológicas do tubérculo.
Além da composição centesimal básica, o cará-moela também se destaca pela presença de metabólitos secundários com potenciais benefícios à saúde, como flavonas, catequinas, alcaloides, saponinas e polissacarídeos, compostos que podem ser associados a propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Em relação à vitamina C, o estudo de Rodrigues et al. (2020) observou valores de aproximadamente 2,94 mg/g, comparáveis aos de outros tubérculos amplamente consumidos, como a mandioca (3,9mg/g) e o inhame (6,13mg/g).

Na culinária, o cará-moela apresenta grande versatilidade. Pode ser cozido, frito, assado, transformado em purê, farinha, pães, bolos ou broas, além de ser utilizado em ensopados e farofas. Quando cozido, o tubérculo adquire textura macia e sabor agradável, semelhante ao da batata ou do inhame tradicional. Essa diversidade de formas de preparo o torna uma excelente opção para a variabilidade alimentar.
O cará-moela é um alimento nutritivo, rico em compostos bioativos e de fácil cultivo. Por isso, ele representa uma opção valiosa para fortalecer uma alimentação saudável e apoiar a agricultura familiar. Apesar do seu valor nutricional e funcional, o cará-moela ainda é pouco conhecido e explorado comercialmente, devido ao predomínio de culturas mais convencionais no mercado.
Conhecer suas propriedades e incentivar seu consumo pode contribuir tanto para dietas mais nutritivas quanto para a valorização do patrimônio alimentar brasileiro, em consonância com o Guia Alimentar para a População Brasileira, que incentiva o consumo de alimentos in natura e minimamente processados da nossa biodiversidade.
Referências bibliográficas:
EMBRAPA HORTALIÇAS. Cará-do-ar (Dioscorea bulbifera): hortaliça tradicional – hortaliças não convencionais. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2017.
IPEANE. Cultura econômica do cará-inhame. IPEANE. Série Extensão: Recife, 1969.
MULLER, M. S. Cará-moela (Dioscorea bulbifera L.): composição centesimal e mineral, extração e quantificação de polissacarídeos e cinética de secagem. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2017.
RODRIGUES, L. L. et al. Cará-moela (Dioscorea bulbifera): estudo físico-químico e avaliação fitoquímica. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 11, p. 89233–89241, 2020.
SARTORI, V. C. (Org.). Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC): resgatando a soberania alimentar e nutricional. Caxias do Sul: Educs, 2020.
SILVA, E. N. L. et al. Caracterização nutricional das espécies cará-moela (Dioscorea bulbifera L.) e cará (Dioscorea spp.). Revista Desafios, v. 7, n. 3, p. 357–365, 2020.




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