Você já ouviu falar da cafeína? Em que alimentos ela está presente? Consome com regularidade bebidas consideradas estimulantes, como café por exemplo? Sente diferença no comportamento após o consumo de bebidas com cafeína? Hoje, vamos explicar um pouco sobre essa substância química: a cafeína.
A cafeína é uma substância química encontrada em cafés, chás, chocolates, cacau, guaraná, noz-de-cola. Além de estar presente em bebidas energéticas, refrigerantes e outros alimentos. Para muitos fornece a impressão de que estamos mais alertas, isso ocorre por que essa substância química ocupa o local dos receptores de adenosina em distintas partes do corpo, não só o cérebro, sendo assim, a adenosina que tem a função de nos fazer dormir, não cumpre essa função, nos deixando alertas.
Além de sua origem natural, a cafeína pode ser fabricada sinteticamente como um aditivo alimentar, sendo utilizada como um agente aromatizante, agregando sabor e odor, principalmente em refrigerantes.
Alguns alimentos apresentam teores mínimos de cafeína que devem estar presentes. De acordo com a Portaria n° 377, 26 de abril de 1999, fixando o teor mínimo de 0,7% de cafeína no café torrado e moído. Já a RDC nº. 277, de 22 de setembro de 2005 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece os teores máximos de cafeína para produtos descafeinados, para no máximo 0,1% (g/100g) e, para produtos solúveis descafeinados, o máximo 0,3% (g/100g). De acordo com a RDC nº 18 de 27 de abril de 2010, suplementos de cafeína para atletas devem fornecer 210 e 420 mg de cafeína na porção. Além disso, bebidas denominadas como “composto líquido pronto para consumo” pela Portaria n°868 de 03 de novembro de 1998 da ANVISA não devem ultrapassar 350 mg L–1 quanto ao teor de cafeína.
Entretanto, outras bebidas, como as bebidas energéticas, não existe uma legislação que determine o limite de cafeína nestes tipos de bebidas, o que torna possível uma variação das concentração da substâncias nessas bebidas.
Entre os alimentos mais famosos pela cafeína, o café se destaca. Os grãos de café foram as primeiras fontes de extração de cafeína, na qual seus teores irão variar de acordo com a espécie do café, um exemplo disso são, o grão de café Arábica e o Robusta, enquanto o primeiro apresenta, em média 1,2% de cafeína, sendo usando para obtenção de café em pó torrado, o segundo apresenta, em média, 2,0%, sendo usado usualmente na fabricação de café instantâneo.
Em função de sua termoestabilidade a cafeína resiste às torrefações excessivas que são realizadas na produção de café. A composição química do café varia de acordo com o clima do local em que foi plantado e como ele foi processado.
Em relação a produção, os grãos de café, para o consumo, são torrados a uma cor marrom escuro/ preto e moída em um pó que é o que utilizamos para tomar uma boa xícara de café. O café colhido, por meio do processo de torragem, sofre algumas reações, como a reação de Maillard e caramelização de carboidratos, essas reações bioquímicas são responsáveis por modificações profundas nas composições químicas do café verde que originam as características anteriores.
A cafeína pode originar diversos efeitos no nosso organismo, sendo ela metabolizada pelo fígado, atuando entre 3h a 6h, e depois seus produtos metabolizados são excretados pela urina. Essa substância é considerada um estimulante para o sistema nervoso central, podendo causar a dependência, muitas vezes de forma silenciosa. Alimentos com cafeína em quantidades consideráveis, quando consumidos em excesso, podem acarretar sintomas como ansiedade, nervosismo, inquietação, insônia, excitação, agitação psicomotora, disforia e fluxo inconstante de pensamentos e palavras.
Estudos realizados indicaram que pessoas que possuem o hábito de beber café regularmente estão propícias a desenvolver ansiedade após ingerir 400 mg de cafeína; já pessoas que bebem pouco ou nenhum café, quando o consomem ficam mais suscetíveis ao efeito da ansiedade, precisando de doses menores para apresentarem esses sintomas. Em outro estudo, comparando populações de estudantes que não consumiam café e estudantes consumiam, foi observado que aqueles que o consumiam apresentaram risco reduzido de desenvolver depressão. Porém, se este consumo passar do limite, poderia ocasionar o efeito contrário, acentuando ainda mais o risco de desenvolver depressão.
Existem pessoas que são mais sensíveis aos efeitos da cafeína, ao consumirem alimentos com essas substância apresentam sintomas como: o aumento da ansiedade, dores de cabeça, sonolência e náuseas. Entre os grupos da população que são sensíveis aos efeitos dessas substâncias estão as crianças, em função da imaturidade do sistema nervoso central, local em que a cafeína atua.
Além disso, existem evidências que a cafeína também pode ser um fator de risco para agravamento do quadro de psicose, esquizofrenia ou outras síndromes psicóticas. O consumo excessivo de café também está relacionado com a maior dificuldade no tratamento de indivíduos com transtorno de ansiedade social, podendo ser um fator atuante negativamente na recuperação de pacientes com transtorno bipolar e episódios de humor. Segundo estudos, quando o consumo de café dessas pessoas é reduzido, pôde-se observar uma melhora no comportamento e redução da agressividade.
Sendo assim, se você possui sensibilidade ao consumo de cafeína, percebe alterações após o consumo de café, o ideal é diminuir o consumo de alimentos com esta substância, substituindo o café comum por café descafeinado, por exemplo.
Uma possível substituição, para diminuir os sintomas de ansiedade ocasionados pelo consumo de café, é trocá-lo por chá de camomila. Lembre-se que para contribuir para o controle da ansiedade é importante a associação de uma alimentação saudável rica em magnésio, zinco, vitamina B, vitamina C e vitamina E. Portanto, é importante consumir peixes, frutas, vegetais frescos, carnes, grãos inteiros e leite de soja. Evite alimentos muito gordurosos e processados. Aliado a estas soluções, o mais importante é sempre procurar um profissional capacitado para orientar nessas situações.
Além disso, se você não quer abandonar o café, o café descafeinado é uma solução, uma vez que seus teores de cafeína são baixíssimos. O café descafeinado é o café no qual separou-se a cafeína até um conteúdo menor que 0,1% no café torrado e 0,35% no café solúvel. Entretanto, o processo de descafeinização altera as características físico-químicas do grão e a qualidade sensorial do café.
Porém, a cafeína não apresenta apenas malefícios, quando não consumida em excesso elas possuem sua contribuição para nossa saúde. Estudos observaram que baixas doses de cafeína reduzem a ansiedade e melhoram o humor, além de reduzir risco de alguns tipos de câncer e doenças neurológicas, no metabolismo, no sistema cardiovascular e no fígado. Além disso, a cafeína dispõe de atividades antioxidante, anti-inflamatória e diurética, com isso, seu consumo pode apresentar benefícios, como estimular o sistema nervoso e promover efeito preventivo contra algumas doenças como diabetes e Parkinson.
Sendo assim, o café, um dos principais alimentos fontes de cafeína, a quantidade diária de consumo pode variar de pessoa para pessoa. Um adulto de 70kg saudável sugere-se um consumo de no máximo 4 xícara de café coado por dia, equivalente a 300-400 miligramas de cafeína. Já para as crianças, a partir de 2 anos de idade, sugere-se 1 xícara de café coado, o que equivale a 100 miligramas de cafeína. Para
Ao se tratar do café, um dos principais alimentos fontes de cafeína, a quantidade diária máxima de consumo irá variar para cada indivíduo. Para um adulto saudável de 70 kg é sugerido o consumo diário máximo de 4 xícaras de café coado, o equivalente a cerca de 300 a 400 miligramas de cafeína. Para gestantes e lactantes sugere-se o consumo de 2 xícaras de café coado por dia, equivalente a 200 miligramas de cafeína; E para indivíduos sensíveis sugere-se que seja consumido de 100 a 200 miligramas de cafeína. A concentração de cafeína também pode variar com a forma de preparo do café, como por exemplo, o café expresso possui 3 vezes mais de cafeína que o café coado.
Além disso, vale se ressaltar novamente que a cafeína não está presente somente no café, podendo encontrar essa substância no chocolate, no achocolatado, refrigerantes à base de guaraná ou cola, chá etc. Para isso, devemos lembrar sempre de consumir os alimentos moderadamente para usufruirmos de seus benefícios, e lembrarmos sempre de descascar mais e, desembalar menos!
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