Creatina: por que esse suplemento é tão abordado?
- Pamela Braga Louback
- 14 de nov. de 2022
- 4 min de leitura

Quimicamente falando, a creatina é o ácido alfa-metil guanidino acético, integrante do grupo das aminas, aqueles compostos que têm o nitrogênio em sua estrutura. No corpo humano, a creatina é produzida pelo pâncreas, pelos rins e pelo fígado por meio de três aminoácidos: arginina, metionina e glicina. Em um adulto saudável, é produzido cerca de 1 g de creatina por dia e, pela alimentação, recebe também por volta de 1 g da substância. O composto fica predominantemente armazenado nos músculos esqueléticos e uma pequena parte fica dispersa entre coração, rins, cérebro e, nos homens, nos testículos. Depois de sintetizada, a creatina segue para os tecidos musculares, onde uma enzima chamada creatina-quinase (CK), quando acontece uma contração muscular, quebra a creatina e a transforma em creatinina. A creatinina produzida segue para a corrente sanguínea e, então, é excretada do organismo através da urina. Logo, a creatina ajuda a observar, por meio de exames bioquímicos, se os rins estão em um bom estado de funcionamento, porque quando há taxas de creatinina menores que o normal no exame de urina e mais elevadas no exame de sangue, indica uma defasagem na eliminação da creatinina e, consequentemente, um problema renal existente.

No corpo humano, a creatina pode ser vista sob as formas livre e fosforilada, onde a fosforilada é combinada com o grupamento fosfato. O papel desempenhado pela creatina é, basicamente, o de ressíntese de ATP (adenosina trifosfato, que é uma molécula responsável pela liberação de energia). Na contração muscular, ATP se quebra, liberando um fosfato e tornando-se ADP (adenosina difosfato). Esse fosfato liberado no plasma é recebido pela creatina armazenada no tecido muscular. A creatina retém esse fosfato para que, posteriormente, possa liberá-lo para formar uma nova molécula de ATP. Em síntese, a suplementação da creatina principalmente entre praticantes de esportes se justifica por isso, por uma maior capacidade de energia durante a atividade física, ainda mais naquelas com maior uso de força, pois os estoques de ATP tendem a se esgotar rapidamente no tecido muscular. Além do efeito ergogênico, que visa a melhoria do desempenho esportista, a suplementação de creatina tem se mostrado benéfica, por exemplo, para o aumento de massa magra e de força muscular, impacta em bons efeitos neuroprotetores em idosos quando aliada à coenzima Q10, sendo o seu uso muito interessante para a prevenção e o resguardo da saúde na terceira idade. No que diz respeito ao modo de consumo do suplemento, as doses variam entre protocolos ou dosagem específica de acordo com o peso da pessoa, onde o nutricionista atua prescrevendo conforme a necessidade individual. O que há como indício de maior aproveitamento do suplemento é a ingestão junto a um carboidrato, porque a insulina liberada facilitaria a absorção da creatina.

A creatina também é encontrada nos alimentos de origem animal, como peixes e carne vermelha. São exemplos as carnes suínas e bovinas, o atum, o bacalhau, o salmão, o arenque e as aves, como o frango. Não coincidentemente, é vista nos alimentos de origem animal, pois é armazenada em grande parte em tecidos musculares. Embora forneçam certas quantidades de creatina, os alimentos não são capazes de exercer um papel de sobreposição da substância, porque grande parte é perdida ainda no preparo da refeição. Além dessa questão de perda, para que houvesse um “efeito de suplementação” da creatina somente através dos alimentos, seria necessário o consumo de grandes quantidades de carnes, por exemplo, o que concomitantemente elevaria os níveis de colesterol no corpo, sendo prejudicial para a saúde.

A suplementação de creatina tomando popularidade fomentou a indústria de suplementos. Atualmente, existem alguns tipos de creatina, como a monohidratada, a micronizada e a creatina alcalina, que se distinguem, basicamente, pela forma em que são filtradas, por seus processos de quebra, degradação, e absorção pelo corpo, além do preço. Todas têm a via oral como forma de entrada, ou seja, é necessário ingerir. A creatina monohidratada é a mais popularizada e tem um menor custo, possui textura em pó e uma absorção mais lenta que as demais, mas, ainda assim, com o melhor custo-benefício para grande parte dos consumidores. Por sua vez, a creatina micronizada é bem parecida com as demais, mas possui um processo de quebra maior, cerca de 10 vezes mais que a monohidratada e, por ter partículas menores, o corpo absorve mais rápido. Sua textura também é em pó, todavia, seu valor tende a ser mais elevado. Por fim, o formato alcalino da substância é o menos conhecido entre os três até então existentes e, conforme indica o nome, tem um pH mais elevado, mais básico, que é sinônimo de alcalino. Esse modo com menor acidez proporciona mais estabilidade em meio que contenha líquido, o que gera um maior tempo disponível para absorção no organismo, mais biodisponibilidade. A creatina alcalina geralmente é comercializada em cápsulas e ainda há poucos estudos acerca das maiores vantagens que ela possa fornecer em comparação com a monohidratada. No mercado, há, também, a creatina “creapure”, que nada mais é do que o suplemento com um selo de pureza da substância, o qual é patenteado pela empresa alemã AlzChem Trostberg GmbH.
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