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Cupuaçu: Aplicações e Benefícios

  • Yara Almeida Garcia
  • 14 de abr. de 2024
  • 5 min de leitura

O cupuaçuzeiro, cientificamente conhecido como Theobroma grandiflorum, pertence ao mesmo gênero do cacau e é uma árvore de porte pequeno a médio, podendo atingir até 20 metros de altura. Na floresta amazônica, essa árvore frutífera tem uma relevante função como fonte primária de alimento, tanto para as populações indígenas quanto para os animais. A fruta em si é caracterizada por sua polpa cremosa e sabor exótico, além de possuir dimensões impressionantes, sendo grande, pesada, volumosa e perfumada. Suas folhas são amplas, e suas sementes, envoltas em uma polpa branca ácida, exalam um aroma intenso e agradável (SOCHA, 2016).


Cada fruto do cupuaçuzeiro contém, em média, 36 sementes dispostas em torno de um eixo central conhecido como talo, que se estende longitudinalmente em relação ao comprimento da fruta. As sementes são envolvidas firmemente por uma polpa amarelada, abundante, ácida e de odor e sabor muito agradáveis (QUEIROZ, 1999). Os frutos pesam em média 1,275 kg, sendo 38,5% de polpa, 17,19% de sementes, 43% de casca e 2,85% de placenta (VILALBA, 2004).


De acordo com CALZAVARA, 1984, os frutos do cupuaçuzeiro são classificados com base em suas características morfológicas da seguinte maneira:

  • Cupuaçu redondo: Possui extremidades arredondadas e um peso médio de 1,5 kg, com uma casca que tem cerca de 6 a 7 mm de espessura. Essa é a variedade mais comum na região Amazônica.

  • Cupuaçu casca fina: Similar ao redondo, porém com uma casca mais fina, variando de 4 a 5 mm de espessura. Tem um formato cilíndrico levemente anguloso nas laterais.

  • Cupuaçu mamorana: Pode pesar até 4 kg e apresenta uma casca grossa que varia de 7 a 9 mm de espessura, além de sementes grandes.

  • Cupuaçu de colares: Possui um peso ligeiramente superior ao grupo redondo, com uma casca que varia de 6 a 7 mm de espessura, sem angulação nas laterais.

  • Cupuaçu mamau: Os frutos dessa variedade não possuem sementes. A casca tem uma espessura que varia de 6 a 7 mm e o formato é semelhante ao do cupuaçu redondo. O peso médio é de 1,5 kg. ao atingir a maturidade, o fruto do cupuaçu simplesmente desprende-se da árvore. A polpa suculenta é retirada utilizando tesouras, e os resíduos que permanecem nas sementes são lavados. O cupuaçu se destaca entre as demais frutas tropicais nativas da Amazônia não apenas pelo sabor, mas também pelo seu excelente aproveitamento industrial. A partir da polpa, são criadas inúmeras delícias gastronômicas e a casca, que é marrom e resistente, é utilizada na confecção de peças artesanais (SOCHA, 2016). 


Em 2017, a produção de cupuaçu no Brasil alcançou o valor de R$ 54,8 milhões. Desse montante, R$ 41,4 milhões foram provenientes da região Norte, enquanto R$ 11,2 milhões representaram o valor estimado da produção na região Nordeste. Os 2,1 milhões restantes foram provenientes das regiões Centro-Oeste e Sudeste. O valor econômico dessa fruta está intrinsecamente ligado à sua industrialização e comercialização de polpa, que após o processamento é congelada, permitindo sua comercialização em longas distâncias. A polpa é amplamente apreciada em sucos, sorvetes, gelatinas, espumas, mousses e doces em pasta (SOUZA, 2020).


A polpa do cupuaçu é rica em polifenóis antioxidantes, como flavonas, flavonóis, catequinas e protoantocianidinas, e é uma boa fonte de fibra alimentar, variando de 0,50% a 2,12% (PEREIRA, 2018). Apresentando cor amarelo-claro, textura fibrosa e sabor ácido, essa polpa possui um aroma intenso e agradável, sendo muito apreciada devido ao seu alto valor nutricional. Além de ser uma excelente fonte de fibra alimentar, especialmente de fibra solúvel, a composição química da polpa do cupuaçu também inclui uma quantidade significativa de amido e pectina, conferindo uma textura distinta aos produtos em que é adicionado, em comparação com outras polpas de frutas (CALZAVARA, 1984).


O cupuaçu é frequentemente comparado ao cacau, pois suas sementes, após fermentação, secagem, torrefação e moagem, se transformam no "cupulate", similar ao chocolate convencional, mas sem cafeína e teobromina. Disponível em barras ou pó nos sabores ao leite, meio amargo e branco, é uma alternativa para pessoas alérgicas ao chocolate de cacau e recomendado para idosos e crianças (EMBRAPA, 2018). Sua versatilidade é apreciada em diversas receitas de confeitaria, como bolos e biscoitos, e encontra aplicação em várias outras indústrias. (SOUZA, 2020; SOCHA, 2016; CALZAVARA, 1984).


Na indústria de produtos de beleza, são fabricados cremes para a pele utilizando a gordura extraída das sementes do cupuaçu. Além disso, pesquisas indicam que o óleo de cupuaçu, semelhante ao azeite, pode contribuir para o combate à dislipidemia, um acúmulo de gordura no sangue. Esse efeito benéfico ocorre porque os três principais ácidos graxos presentes na fruta (oleico, ácido linoleico e araquídico) estão equilibrados, acelerando a redução do colesterol e, consequentemente, ajudando a diminuir os riscos de ataques cardíacos e derrames. Adicionalmente, as sementes do cupuaçu são aproveitadas para a extração de xilitol, um adoçante natural com baixo índice glicêmico, que não requer insulina para ser metabolizado. Esse adoçante é bem aceito pela comunidade médica devido aos benefícios que traz para pessoas com diabetes (FERREIRA, 2015).


Diante do exposto, a valorização do cupuaçu como patrimônio cultural e ecológico contribui para um futuro mais sustentável, preservando as riquezas da Amazônia para as gerações presentes e futuras. Sua polpa saborosa e propriedades nutricionais benéficas o tornam uma iguaria valorizada e uma fonte de inovação nas indústrias alimentícia e de beleza. Conscientizar sobre sua importância é fundamental para alcançar o equilíbrio entre exploração sustentável e conservação ambiental.


Referências Bibliográficas


CALZAVARA, B. B. G., MULLER, C. H. & KAHWAGE, O. N. C. (1984). Fruticultura tropical: o cupuaçuzeiro, cultivo, beneficiamento e utilização do fruto. Ilhéus: EMBRAPA-CPATU.


EMBRAPA. Cupulate agora é marca registrada da Embrapa. Embrapa Amazônia Oriental. 2015. Acesso em 8 de julho de 2023. Disponível em: https://cloud.cnpgc.embrapa.br/clpi/artigos/page/2/.


FERREIRA JDPS. Bioimperialismo e direito de propriedade intelectual: disputas pelo 

acesso ao cupuaçu e ao conhecimento tradicional. (Dissertação). Marília: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências, 2015.


PEREIRA ALF, ABREU VKG, RODRIGUES S. CUPUASSU - Theobroma grandiflorum. In Rodrigues S, de Oliveira Silva E, de Brito ES. Exotic fruits reference guide. Cambridge: Academic Press, 2018


QUEIROZ MB. Estudo dos parâmetros de torração de amêndoas de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) (Dissertação), Campinas: Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, 1999.


SOCHA. L. ET AL. CUPUAÇU: A FRUTA GLOBALIZADA. R. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 4, n. 2, p. 554– 567, out. 2015/mar. 2016. 55


SOUZA JML, ROCHA JM, CARTAXO CBC, VASCONCELOS MAM, ÁLVARES VS, NASCIMENTO MM, YOMURA RTB, KAEFER S. Monitoring and Optimization of Cupuaçu Seed Fermentation, Drying and Storage Processes. Microorganisms. 2020, 8: 1314.


VILALBA FA, MARSAIOLI AJ, PEZOA GARCIA, NH. Fragmentação Mecânica de Amêndoas de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum). Ciência e Tecnologia de Alimentos. 2004, 24: 419-426.


 
 
 

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