Edulcorantes: Adoçantes Naturais X Adoçantes Sintéticos
- Karen Nardy e Mariana Viana
- 3 de out. de 2021
- 6 min de leitura

Você já ouviu falar em edulcorantes? Sabe o que são? De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, os edulcorantes, comumente chamados de “adoçantes”, são definidos como substância orgânica artificial, não glicídica, capaz de conferir sabor doce aos alimentos e bebidas. Eles estão presentes em diversos alimentos e bebidas como sorvetes, geléias, bolos, pães, sucos, refrigerantes, produtos lácteos, dentre outros. Nessa perspectiva, a utilização de edulcorantes (adoçantes) em alimentos e bebidas é aprovada pela RDC 18/2008 para dietas com ingestão controlada de açúcares e restrição de açúcares, para controle de peso e com informação nutricional complementar.

Segundo a legislação do Codex Alimentarius, eles podem ser divididos em 2 grandes grupos: nutritivos ou calóricos e não nutritivos ou não calóricos (artificial, natural e à base de extratos de vegetais). Os edulcorantes nutritivos, também chamados de calóricos, são aqueles que possuem valor calórico semelhante,inferior ou superior ao açúcar comum e, quando são adicionados aos alimentos, podem modificar sua textura e aumentar seu valor energético. Temos como exemplos a sacarose, a frutose e os polióis (xilitol e eritritol, por exemplo). Já os edulcorantes não nutritivos, também conhecidos como não calóricos, são mais intensos, promovendo um sabor mais doce ao alimento ou bebida quando adicionados. Além disso, são adoçantes que apresentam baixa ou nenhuma caloria. São alguns exemplos de adoçantes não calóricos, a sucralose, o esteviol (estévia), a sacarina e o ciclamato.
Os edulcorantes podem ser divididos, ainda, em outras categorias como: “adoçantes de mesa”, que são aqueles produzidos com a finalidade específica de garantir o sabor doce, tanto às bebidas quanto aos alimentos em geral; adoçantes “dietéticos”, que são muito utilizados por diabéticos e por pessoas com restrições na dieta, por não possuírem na sua composição carboidratos, como a sacarose, glicose e frutose. Esses dois tipos podem ser formulados tanto com edulcorantes naturais, quanto com artificiais, desde que permitidos pela legislação (ANVISA, 1998). Atualmente, no Brasil, a RDC nº 18, de 24 de março de 2008, é a lei que determina os 16 edulcorantes permitidos (Inclusão do 16° edulcorante, Xarope de poliglicitol, pela RDC 239/2018) para uso no Brasil com suas respectivas atribuições ao alimento e seu limite máximo de uso. São eles:
Sorbitol, Xarope de sorbitol, D-sorbita - INS 420
Manitol - INS 421
Acesulfame de potássio - INS 950
Aspartame - INS 951
Ácido ciclâmico e seus sais de cálcio, potássio e sódio - INS 952
Isomalt (Isomaltitol) - INS 953
Sacarina e seus sais de cálcio, potássio e sódio - INS 954
Sucralose - INS 955
Taumatina - INS 957
Glicosídeos de esteviol - INS 960
Neotame - INS 961
Maltitol, Xarope de maltitol - INS 965
Lactitol - INS 966
Xilitol - INS 967
Eritritol - INS 968
Xarope de poliglicitol - INS 964

Mas, afinal, qual é a diferença entre o adoçante natural e o adoçante artificial? Os edulcorantes naturais são aqueles extraídos de fontes naturais como plantas e frutas. Os considerados como naturais são: sorbitol, manitol, isomaltitol, maltitol, esteviosídeos, lactitol, xilitol e eritritol. Já os adoçantes artificiais ou sintéticos são aqueles produzidos industrialmente, passando por diversas reações químicas. São exemplos de adoçantes artificiais: acessulfame de potássio (acessulfame K), aspartame, ciclamato de sódio, sacarina (primeiro adoçante artificial encontrado - 1879), sucralose, taumatina e neotame. Conheça agora alguns exemplos desses adoçantes:
O Xilitol é um adoçante natural pertencente ao grupo dos polióis (álcoois de açúcar) encontrado em pequenas quantidades em frutas, cogumelos e vegetais e pode ser gerado como composto intermediário no metabolismo da glicose no nosso organismo. Possui grandes vantagens na indústria de alimentos por serem estáveis térmica e biologicamente, conferindo maior tempo de prateleira aos produtos em que são adicionados e proporciona efeito refrescante em gomas de mascar e balas, por exemplo. Além disso, o xilitol é uma boa escolha para pessoas com restrições calóricas na dieta, pois possui um valor calórico muito baixo, tem um poder de dulçor semelhante ao da sacarose e não possui gosto residual amargo como outros adoçantes. Somado a isso, estudos apontam propriedades anti cariogênicas, ou seja, reduzem a formação de cáries, sendo muito utilizados em enxaguantes bucais e gomas de mascar. Entretanto, seu consumo acima das doses recomendadas pode ocasionar efeitos laxativos.
Extraída da planta Stevia rebaudiana, a Estévia é um adoçante natural, livre de calorias e utilizado em diversos países no controle natural do diabetes por possuir efeitos benéficos na regulação dos níveis de glicose e insulina, segundo estudos. Destaca-se também por, após a ingestão, seus metabólitos serem completamente eliminados pela urina, não sendo armazenados. É utilizada em diversos alimentos como sucos, biscoitos, gelatinas e bebidas lácteas.
O Aspartame, um dos mais polêmicos adoçantes artificiais e amplamente utilizado pela indústria de alimentos, é contraindicado para fenilcetonúricos, apresenta poucas calorias e é 200 vezes mais doce que o açúcar comum (sacarose), porém apresenta um gosto residual amargo.A segurança do uso desse edulcorante tem um grande interesse científico e, diversas pesquisas e estudos realizados por órgãos internacionais, como a EFSA (European Food Safety Authority) que, em dezembro de 2013 , publicou uma grande revisão sobre a segurança do aspartame, afirmando que o uso desse edulcorante e seus produtos de degradação,são seguros para a população em geral,não apresentando riscos de segurança com os níveis de ingestão recomendados diariamente.Vale ressaltar que essa revisão de segurança é vigente até os dias de hoje e, a implicação dessa segurança só é válida para indivíduos não fenilcetonúricos.
Outro adoçante artificial muito utilizado em alimentos e bebidas, e muito consumido pela população brasileira é a Sucralose. Esse edulcorante sintético é o único feito a partir da sacarose, não possui calorias, tem um intenso sabor adocicado, não possuindo gosto residual metálico ou amargo, é rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal e removida pelos rins e excretada na urina. Entretanto,estudos mostram alguns efeitos adversos do seu consumo em excesso, como náuseas, gases, dor no estômago e diarréia.

Embora os adoçantes estejam muito presentes na mesa dos brasileiros e possuam benefícios, principalmente para a população que possui restrições acerca da ingestão de açúcares, como mencionado anteriormente,devemos nos atentar às doses recome recomendadas.Ademais,os 16 edulcorantes da RDC 18/2008 possuem segurança comprovada,ou seja, não apresentam riscos quando ingeridos nas doses recomendadas. Em geral, os adoçantes não calóricos apresentam como vantagens o fato de não promoverem a formação de cáries, não possuírem calorias e não afetarem o nível de glicemia. Em contrapartida, em doses acima do recomendado podem causar efeitos gastrointestinais adversos, incluindo flatulência e diarreia osmótica.Já os adoçantes calóricos,apesar de possuírem calorias (baixas), substituem muito bem o açúcar comum,possuem um poder de dulçor menor, anticariogênico (xilitol) e possuem vantagens para indústria de alimentos,como prolongar o tempo de prateleira dos alimentos que são adicionados.Nesse âmbito, o consumo de adoçantes deve ser feito conscientemente, sempre atentando para as doses recomendadas e optando por adoçantes naturais. Além disso, se não tiver restrições de açúcar em sua dieta e não for diabético, opte por substituir o açúcar branco pelo mel, por exemplo. E não se esqueça: descascar mais e desembalar menos por uma saúde melhor!
Referências:
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BRASIL.
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CATARINO, H. A. V.. Edulcorantes (artificiais e naturais) - Impacto na Obesidade e Diabetes Mellitus. 2009. 75f. Monografia (Licenciatura em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2009. Disponível em: <https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/8363/1/Mono_11654.pdf>
FREIRE, R. M. L.. Estudo da estabilidade térmica de adoçantes naturais e artificiais. 2010. 132f. Dissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010. Disponível em: <https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/17636/1/RosimereMLF_DISSERT.pdf>
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