Formiga Tanajura: Conheça essa iguaria de origem indígena

De acordo com um relatório produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU), é previsto que a população mundial atinja a marca de 9,7 bilhões de pessoas em 2050, o que, somado aos bilhões de animais criados para fins alimentícios, é gerada preocupação de todos quanto ao impacto ambiental, falta de terras agricultáveis (visto que áreas para pastagem e produção de ração demandam hectares extensos), e, principalmente, a insegurança alimentar e a desnutrição que acompanham essa crescente demanda por alimentos.

Nesse contexto, os insetos comestíveis vêm ganhando um reconhecimento na indústria como uma alternativa sustentável e nutritiva para essa problemática por emitirem menos gases de efeito estufa e amônia, e necessitarem de menos água e terra para a sua produção. Um exemplo deles, são as formigas do gênero Atta, também conhecidas como “Saúva”, “Içá”, “Cortadeira” e “Tanajura”, que apesar de ainda não haver nenhuma legislação brasileira quanto ao consumo humano desse animal, está entre os 4 insetos mais consumidos do país.

Informações Gerais

Essas formigas nativas do Cerrado brasileiro, que podem chegar a até 2,5cm de comprimento, são conhecidas como “Cortadeiras” por cortarem folhas, não para seu consumo próprio - apesar de no processo ingerirem a seiva presente nelas -, mas sim, para usarem como substrato para a criação de fungos presente dentro dos sauveiros, isto é, o formigueiro subterrâneo da saúva. Esses fungos, comumente da espécie Leucoagaricus gongylophorus, se desenvolvem graças a essa relação simbiótica, para assim, serem consumidos por elas.

Além disso, elas formam uma sociedade estruturada em que cada formiga exerce uma função para a sobrevivência de todas, tendo: a Rainha (responsável pela postura dos ovos); as Princesas (fêmeas aladas reprodutoras que saem do ninho para acasalar‐se durante o vôo nupcial e criar novos sauveiros. Ela armazena o esperma dos machos para o resto da vida, não precisando copular novamente, além de guardar um pedaço do fungo em sua boca para cultivá-lo no novo ninho); os Bitus (machos alados reprodutores de vida curta que também saem do ninho para o vôo nupcial); as Jardineiras (operárias que cultivam o fungo e cuidam dos ovos, larvas e pupas); as Cortadeiras (cortam e transportam as folhas) e os Soldados (defendem o formigueiro). É importante dizer que cada uma delas possuem tamanhos diferentes, em que isso é resultado da quantidade de alimento servido a depender da necessidade do momento.

Vale ressaltar que, no Brasil, o vôo nupcial, período em que ocorre a captura desses insetos, ocorre entre outubro e dezembro, nos dias claros, quentes e úmidos, principalmente, após períodos de chuvas torrenciais. Sendo esse o por quê de serem datados como "frutos que vinham do céu" pelos indígenas nativos durante a colonização, como abordado no livro “Minhas Cartas” do Padre José de Anchieta, um dos informantes da Corte Portuguesa sobre as expedições na América do Sul.

Características Nutricionais

De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Cuidadores de Insetos (Abrasci), Casé Oliveira, as tanajuras podem ser consideradas nutracêuticas, ou seja, é um alimento que possui benefícios para a saúde. Isso se dá, pois ela fornece todos os aminoácidos essenciais (contém proteínas de alto valor biológico), como a taurina, em que estudos realizados em animais já relacionam um possível retardamento do envelhecimento com a sua presença. Além disso, elas possuem ácidos graxos ômegas 3 e 6, que também podem atuar no colesterol e no retardamento do envelhecimento, retém alto teor de vitamina B12 e de minerais, como o ferro heme, potássio, sódio e cálcio.

Ademais, essas formigas também podem ser usadas na medicina alternativa por produzirem diversos compostos químicos, como o citral e o geraniol, que possuem fortes atividades antibacteriana e antifúngica, podendo auxiliar no tratamento de doenças, como a candidíase.

Formas de Consumo 

A saúva apresenta um sabor que varia de acordo com o consumidor, sendo identificadas notas de  capim-limão, pipoca, castanhas e até de camarão seco. Ela pode ser ingerida de diversas formas, como cozida em água, assada, torrada, defumada e frita, além de poder ser adicionada em receitas, em que a mais famosa no Brasil é a farofa de tanajura, um prato indígena feito a partir da farinha da mandioca enriquecida nutricionalmente com a proteína da tanajura frita.

Segurança do Alimento

Por esse inseto ser considerado uma praga em algumas regiões, por gerar vários prejuízos no contexto agrícola, é muito comum o uso de compostos químicos tóxicos aprovados pela legislação local para controlar e eliminar as formigas-cortadeiras.

Com isso, se um indivíduo for capturá-lo com a finalidade de consumí-lo, é muito importante que ele capture as formigas de locais que não usem esses compostos, além de realizar os atos de boas práticas de pré-preparo antes de ingerí-los, como pela lavagem, sanitização e tratamento térmico - nunca os consuma cru -.

Assim, o consumo das formigas tanajuras possui um grande potencial para a indústria alimentícia, pois além de ser uma alternativa mais sustentável e nutritiva, também pode ser considerado uma forma de solução ao combate dessa praga, além de ser uma possibilidade de gerar mais empregos, visto que seria necessário a captação da matéria prima.

Referências Bibliográficas

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