Entre Raízes e Lendas: A Jornada das Witchetty Grubs na Austrália

As witchettys grubs, também conhecidas por witjuti grubs são classificadas como larvas de insetos membros de algumas famílias como Hepialidae, Cossidae, Buprestidae, Cerambycidae e apresentam como característica importante a capacidade de furarem o caule e se alimentarem das raízes de plantas. As árvores alvo principais desses parasitas são do gênero Acacia que muitas vezes são chamadas de “witchetty bush” e árvores de madeira de sangue, eucaliptos da família Corymbia. Na Austrália há uma imensa diversidade de espécies de acácias, de mais de 1300 espécies, 1000 estão presentes neste país. As acácias são árvores/arbustos bem adaptados à regiões áridas e a espécie Acacia pycnantha é símbolo nacional. Já quanto às árvores madeira de sangue são conhecidas assim por ao terem seu tronco lesionado, exsudarem seiva vermelha resinosa, espessa e cor de sangue, sendo as principais espécies a Corymbia gummifera e a Corymbia opaca.

As witchettys grubs são em sua maioria larvas de insetos, dentre elas larvas das mariposas fantasmas. No entanto, outras larvas como as larvas das traças de cabra, de besouros de joias, de besouros longicórnios podem ser consumidas como witchetty grubs apesar de apresentarem uma morfologia com algumas diferenças. Por exemplo, as larvas de besouro longicórnios apresentam a cabeça retangular e corpos mais finos comparada às larvas de mariposas fantasmas. Além disso, as larvas de besouro são menores podendo atingir até seis centímetros de comprimento, quando comparadas com as larvas de da mariposa fantasma que pode atingir até doze centímetros de comprimento.

Estes insetos apresentam desenvolvimento holometábolo, do ovo eclode as larvas, as larvas se desenvolvem e crescem por volta de dois anos e entram na fase pupal, e depois há transformação completa em mariposa ou em besouros. E então essas mariposas vivem apenas alguns dias, acasalam e botam os ovos. Centenas de ovos são depositados próximos às acácias, nas folhas ou nas gramas, e o ciclo de repete.

A Austrália é um país com clima majoritariamente árido à semiárido com o solo pobre em nutrientes e com a prevalência de grandes desertos, o que dificulta a prática da agricultura. Desta forma, muitos aborígenes são caçadores e coletores. Por esse motivo, é comum observar nessas comunidades a prática de comer insetos, a entomofagia.

Algumas estratégias são utilizadas pelas populações nativas para encontrar as witchetty grubs, como a procura por crisálidas no solo, que são estruturas na forma da larva que são deixadas para trás pelo inseto adulto quando este se transforma em mariposa ou besouro. A procura por furos no chão, o que indica a presença da larva no local. Além disso, muitos costumam cavar o solo ao redor dos arbustos de acácias para ver o estado das raízes e se há raízes inchadas, que também é um forte indício da presença de witchetty grubs. A capacidade e expertise em caçar essas larvas são passadas de geração em geração, deixando a cultura viva e apertando o laço estreito desses povos com a cultura aborígene e as mudanças sazonais ocorridas neste ambiente.

As witchetty grubs são altamente úmidas e nutritivas, possuem em média 38% de proteínas e 40% de gordura, são ricas em cálcio, ferro e vitamina C. São consumidas cruas ou assadas em cinzas e alguns turistas curiosos que buscam conhecer os costumes aborígenes e provam, dizem que cruas possuem sabor de amêndoas e assadas apresentam uma casquinha crocante e sabor parecido com o ovo. Além disso, podem ser servidas em sopas com frango.

Além disso, as witchetty grubs estão no imaginário popular! Observa-se isso nas histórias Dreaming aborígenes, nas artes e na linguagem! Essas larvas são importantes culturalmente, algumas mitologias até se referem à elas na criação do mundo, e além disso, o consumo de witchetty grubs está ligado totalmente com a natureza e o modo de vida destes povos. Interessante né, quase me deu vontade de provar, e você teria coragem?

Referências:

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