Por Natalia Emmerick
Vivemos uma era tecnológica, onde a sociedade recebe a todo momento uma carga de informações, mídias, orientações e notícias que por vezes não são verídicas ou não possuem embasamento técnico-científico. Por isso, cada vez mais torna-se necessária a avaliação crítica e o questionamento dessas alegações por parte da população. São as chamadas Fake News, ou falsas notícias, uma realidade global.
Quem nunca acreditou que uma notícia fosse verdadeira e repassou sem averiguar suas fontes? No que se refere aos alimentos, essa tendência também se mantém. A todo momento recebemos e repassamos informações sobre dietas, alimentos, produtos e não tomamos os devidos cuidados na hora de disseminar esses conteúdos. Vamos citar alguns exemplos.
Você acredita que o frango que consumimos é um alimento repleto de hormônios? Sim? Esse é mais um exemplo de mito que se sustenta por muitos anos. No Brasil, por lei (IN nº 17 de 2004 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), é proibida a administração, por qualquer meio, na alimentação e produção de aves, de hormônios com finalidade de estimular o crescimento e a eficiência alimentar. Ainda ficou na dúvida? Você pode estar se perguntando, então, como os frangos estão tão maiores do que eram no passado e a resposta para isso é o melhoramento genético, uma técnica realizada para propagar características desejadas nos animais, realizada ao longo de anos, para, assim, chegar até o frango do tamanho que nos deparamos nos supermercados atualmente.
Será que o ovo é um grande vilão do colesterol? O ovo de galinha é o mais consumido mundialmente e ele isoladamente é considerado um alimento de bom perfil nutricional. Nenhum alimento pode ser considerado vilão ou bonzinho, é fundamental que se estabeleça uma dieta balanceada e diversificada, além de hábitos de vida saudáveis. Os estudos recentes apontam que o aumento do colesterol em indivíduos está associado à ingestão e à fatores ambientais e genéticos, não somente a um hábito alimentar isolado.
Fato ou fake? O mel brasileiro não é puro, elevem acrescido de amido e/ou açúcares? Será que as indústrias de laticínios podem adicionar água para o leite industrializado render? As respostas a essas perguntas estão na legislação brasileira. São fakes! O Brasil conta com um serviço de Inspeção Federal para produtos de origem animal e os mesmos são inspecionados por fiscais agropecuários e, caso estejam de acordo com as características inerentes ao produto, recebem um carimbo/selo de inspeção, garantindo a qualidade do produto. Assim, todos os produtos de origem animal deverão conter esta identificação nos rótulos. Um produto que não siga o seu regulamento técnico de identidade e qualidade, é considerado um alimento fraudado, e nesse caso, não poderia ser comercializado.
Como você higieniza a sua salada? Será que a forma como um parente seu realiza há anos é realmente a mais segura para sua alimentação? Há quem acredite que o vinagre é um bom sanitizante de alimentos, afinal muitas pessoas se utilizam dessa técnica. Porém, o que os estudos indicam, é que o vinagre tem apenas o poder de reduzir a carga de microrganismos dos alimentos, mas não os elimina completamente, sendo, então, considerado inadequado seu uso. O correto, atualmente, pelos órgãos sanitários é a utilização de solução clorada, que pode ser comprada nos supermercados.
E quanto as bebidas industrializadas, podemos chamar todas de suco? Afinal, a matéria prima é a mesma: a fruta. Não é bem assim, a legislação brasileira classifica cada tipo desses alimentos. Resumidamente, suco é a bebida não fermentada, não concentrada, e não diluída, de fruta madura ou parte do vegetal passado por processamento tecnológico que assegure a sua apresentação e conservação até o momento do consumo. Néctar é a bebida não fermentada, obtida da diluição em água potável da parte comestível do vegetal ou de seu extrato, adicionado de açúcares, destinada ao consumo direto. E refresco ou bebida de fruta ou de vegetal é a bebida não fermentada, obtida pela diluição, em água potável, do suco de fruta, polpa ou extrato vegetal de sua origem, com ou sem adição de açúcares. Ficou confuso? Nossa dica é se atentar ao rótulo, onde deverá vir descrita a denominação de cada tipo de produto, podendo, então, ser feita uma seleção para o consumo mais consciente na hora de suas compras.
Nesse ano de 2020, estamos vivendo uma pandemia e o Brasil, além de enfrentar a Covid-19 enfrenta a epidemia de Fake News, que promete solucionar e/ou curar o vírus através da alimentação. No entanto, até o momento, não existe nenhuma base científica sobre qualquer alimento que garanta cura ou tratamento da Covid-19.
Já mencionamos aqui, nos parágrafos anteriores, uma série de exemplos dessas falsas notícias e mitos sobre alimentos, que estão inseridos no cotidiano. É preciso questionar todos os tipos de conteúdo que se tem acesso digitalmente. Por isso, trazemos aqui nosso alerta, ao receber um conteúdo digital, leia, questione, pesquise, se informe e consulte fontes científicas e confiáveis. E somente depois, repasse conteúdos íntegros e informativos, auxiliando na divulgação do conhecimento e consciência de consumo e alimentação nessa era midiática e instantânea.
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