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Ferro na Dieta: importância e os riscos da sua carência


O ferro (Fe) é um mineral imprescindível para a manutenção da saúde humana e um dos micronutrientes mais estudados da atualidade. É o responsável por diversas funções vitais do organismo, como a formação da hemoglobina, a síntese do DNA, a respiração celular e o transporte de oxigênio para os tecidos (COZZOLINO, 2020).


No entanto, a deficiência de ferro é a causa mais comum de carência nutricional. Estima-se que 2 bilhões de pessoas no mundo são vítimas de algum tipo de anemia e que dentre essas pessoas, cerca de 27% a 50% são afetadas pela anemia ferropriva, constituindo um grave problema de saúde pública (MORTARI, 2021).


Em vista disso, você não acha essencial conhecer as funções do ferro no organismo e os sintomas que a sua deficiência acarreta? Quais são os alimentos fontes desse mineral e qual tipo de ferro está presente? E quais são os fatores que inibem ou intensificam a sua biodisponibilidade?


Para descobrir, vem com a gente descascar a ciência!


1. Funções:


O ferro constitui o grupamento heme (Figura 1), formado por quatro anéis pirrólicos ligados entre si por um átomo de ferro, que, por sua vez, está presente em algumas hemoproteínas importantes para o transporte de oxigênio, a ativação de oxigênio molecular e o transporte de elétrons. As principais proteínas que contêm esse grupamento heme são a hemoglobina, a mioglobina, os citocromos e a catalase (COZZOLINO, 2020).

Figura 1: Grupamento heme


A hemoglobina e a mioglobina são responsáveis pelo transporte de oxigênio nos eritrócitos e nos músculos, respectivamente. Os citocromos são encontrados nas mitocôndrias de todas as células do corpo, sendo essenciais para o funcionamento dos sistemas oxidativos no interior das células. E por fim, a catalase, que age na redução do peróxido de hidrogênio na cadeia de radicais livres (GUYTON, 11° edição e COZZOLINO, 2020).

A hemoglobina representa cerca de dois terços do Fe corporal. Enquanto a mioglobina, juntamente com as enzimas representam cerca de 15%, e o restante é representado pelas formas de reserva de ferro, que podem ser rapidamente disponibilizadas (COZZOLINO, 2020).


Além dessas funcionalidades, o ferro pode contribuir para um aumento no rendimento atlético e na capacidade de raciocínio, memória e aprendizagem (BORBA, 2022).


Com isso, nota-se que a carência desse mineral a longo prazo pode ocasionar em inúmeras consequências para o organismo, sendo a anemia a manifestação mais significativa, cujos sintomas incluem tontura, fraqueza, palidez e sudorese (NETO, 2020).


2.1 As causas e os perigos da deficiência de ferro


A carência nutricional de ferro tornou-se uma importante questão de saúde pública, principalmente para mulheres, gestantes, crianças, adolescentes e pessoas de baixo nível socioeconômico. As causas mais comuns incluem a má absorção de ferro, o baixo consumo na dieta, a perda aguda de sangue por trauma e a perda crônica de sangue (MORTARI, 2021).


A deficiência férrica e a anemia afetam negativamente o crescimento e a função cognitiva de crianças, podendo gerar uma dificuldade de aprendizagem. Em adultos, é mais frequente a fadiga generalizada, anorexia, palidez de pele e mucosas, menor disposição para o trabalho, apatia e dificuldade de concentração. Em momentos delicados, como durante a gestação, é importante acompanhar os níveis séricos de ferro, pois a carência nutricional desse mineral em gestantes pode afetar o peso do bebê ao nascer, induzir o parto prematuro e, em níveis extremos, levar à morte da mãe e da criança (PISKIN, 2022).


É válido destacar que baixos níveis séricos de ferro nas fases iniciais da vida tendem a ser mais difíceis de corrigir, devido a lenta renovação do ferro cerebral, que é essencial para a mielinização dos axônios. Além disso, muitas doenças neurodegenerativas como Parkinson ou demência, possuem associação com o metabolismo do ferro (BORBA, 2022).


2.2. Anemia ferropriva


De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a anemia pode ser definida como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo dos parâmetros normais por consequência da carência de um ou mais nutrientes essenciais. Os autores André et al. (2018) e Yamagishi et al. (2017) afirmam que um dos maiores problemas de saúde pública no mundo é a anemia por deficiência de ferro. Essa carência progride normalmente em três estágios:


  1. Depleção do estoque de ferro, que afeta os depósitos podendo evoluir para uma grave carência de ferro;

  2. Eritropoese ineficaz, onde os níveis de ferritina e o de hemoglobina apresentam-se diminuídos;

  3. Anemia ferropriva, sendo o estágio mais grave determinado pela queda dos níveis de hemoglobina; (MORTARI,2021)


A anemia ferropriva resulta em eritrócitos de tamanho menor que o normal e na diminuição da quantidade de hemoglobina por eritrócito, caracterizando-a como hipocrômica e microcítica.


2.3 Grupos de risco


Estão sujeitos à uma deficiência de ferro: gestantes, lactentes, crianças , mulheres com sangramento menstrual intenso, doadores de sangue frequentes, portadores de câncer, portadores de distúrbios gastrointestinais, pessoas com insuficiência cardíaca e indivíduos com restrição a carnes (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 2023).


3. Fontes dietéticas e os fatores que aumentam ou diminuem a absorção do ferro:


Há dois tipos de ferro na dieta: o ferro heme e o ferro não heme. O ferro não heme representa cerca de 90% do ferro consumido através da dieta. É encontrado principalmente em alimentos de origem vegetal, mas também em pequena quantidade na carne animal. Suas principais fontes dietéticas incluem os feijões, as lentilhas, os cereais fortificados, as castanhas, o espinafre, entre outros. Sua biodisponibilidade pode ser afetada por componentes da dieta, tais como: ácido fítico, taninos, fibra alimentar e o cálcio, que podem formar complexos insolúveis com Fe não heme ou disputar o mesmo receptor, reduzindo sua absorção. Por outro lado, componentes facilitadores da absorção do ferro também podem estar presentes na dieta, por exemplo, a vitamina C (COZZOLINO, 2020).


É importante prestar atenção em alguns costumes alimentares que podem prejudicar a absorção do ferro, como, por exemplo, aquele clássico cafezinho logo após o almoço, pois o café é uma bebida rica em cafeína e tanino, agentes quelantes que diminuem a biodisponibilidade do ferro não heme. Outro exemplo é o consumo exacerbado de alimentos ricos em cálcio, como leite e derivados, em conjunto com as grandes refeições, visto que o cálcio disputa pelo mesmo receptor que o ferro. Mas é válido destacar que o grau de inibição do cálcio depende da dose ingerida na refeição, pois é um inibidor relativamente fraco (ALVES, 2009 e COZZOLINO, 2020).


No entanto, a combinação de alimentos ricos em vitamina C, como a laranja, o limão e o morango, com as fontes alimentares de ferro, aumenta a absorção e a utilização do ferro pelo organismo. Um exemplo cultural dessa combinação é que além da couve, o vinagrete e a farofa, a feijoada (Figura 2) também tem como acompanhamento a laranja, que, para muitos, pode soar uma mistura estranha, mas é uma excelente estratégia do ponto de vista nutricional, uma vez que essa fruta é rica em vitamina C.

Figura 2. Feijoada e acompanhamentos (couve e laranja).

Fonte: https://espetinhodesucesso.com.br/por-que-colocar-laranja-na-feijoada/


Ao contrário do ferro não-heme, o ferro heme tem uma alta taxa de absorção e é menos afetado por fatores dietéticos. Representa cerca de 10% do ferro dietético, cuja principal fonte na dieta é proveniente da hemoglobina e mioglobina das carnes vermelhas e dos frutos do mar, uma vez que o ferro, como visto anteriormente, faz parte da estrutura dessas hemoproteínas. Por isso, entende-se que a carne bovina é uma excelente fonte de ferro na dieta, uma vez que possui 50% do seu teor de ferro na forma heme, caracterizada por ser o tipo de ferro mais biodisponível (PISKIN, 2022 e COZZOLINO, 2020).


Nota-se que é importante a inclusão de alimentos ricos em ferro na alimentação. Entretanto, a escolha do tipo de alimento e o restante dos componentes da refeição também pode afetar a utilização do ferro pelo organismo, uma vez que a quantidade total desse mineral contido no alimento não garante que seja a escolha mais apropriada de fonte alimentar, já que algumas delas tem baixa biodisponibilidade (COZZOLINO, 2020).


Além dos fatores que coexistem naturalmente nos alimentos, há alguns processos tecnológicos de preparo que podem influenciar positivamente a absorção do ferro pelo organismo, tornando-o mais biodisponível. Um exemplo é o aquecimento no microondas, que favorece a biodisponibilidade do ferro presente no trigo, com um aumento de 7%. Além disso, destaca-se também o processo de germinação dos grãos (feijão, lentilha, grão de bico, entre outros), que reduz a concentração de fatores antinutricionais, como o fitato, potencializando seus nutrientes e aumentando a biodisponibilidade dos mesmos (COZZOLINO, 2020).


4. Conclusão:


Com isso, entende-se que uma das medidas fundamentais para combater e prevenir a anemia ferropriva é promover a educação alimentar e melhorar a qualidade da dieta, priorizando alimentos ricos em ferro, tanto em quantidade quanto em biodisponibilidade. Assim, podemos contribuir para a proteção contra a principal carência nutricional que afeta pessoas em todo o mundo.


5. Referências:

ALVES, C. R. et al. Benefícios do café na saúde: mito ou realidade? Quim. Nova, Vol. 32, N° 8, 2169-2180, 2009.


ANDRÉ, H. P. et al. Indicadores De Insegurança Alimentar E Nutricional Associados À Anemia Ferropriva Em Crianças Brasileiras: Uma Revisão Sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, 23, 1159-1167. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232018234.16012016


BORBA, Luciano de Souza. et al. A importância do ferro no organismo humano: uma revisão integrativa da literatura. Research, Society and Development, v. 11, n. 17, e171111738965, 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i17.38965


CARDOSO,Marly A. et al. Intervenções Nutricionais na Anemia Ferropriva. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 10 (2): 231-240, Abr/Jun, 1994.


COZZOLINO, Silvia Maria. Biodisponibilidade de nutrientes, Manole, 6° Edição, 2020.


GUYTON, A. Tratado de Fisiologia Médica. Elsevier, 11ª edição, 2006.


MORTARI, Isabele Felix. et al. Estudo de correlação da anemia ferropriva, deficiência de ferro, carência nutricional e fatores associados: Revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 10, n. 9, e28310917894, 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.17894


National Institutes of Health (NIH), Office of Dietary Supplements, 15 Jul de 2023. https://ods.od.nih.gov/factsheets/Iron-HealthProfessional/#:~:text=The%20bioavailability%20of%20iron%20is,diets%20%5B2%2C4%5D Organização Mundial da saúde, 2015.


PISKIN, Elif. et al. Iron Absorption: Factors, Limitations, and Improvement Methods. ACS Omega, 2022, 7 (24), 20441-20456. DOI: 10.1021/acsomega.2c01833


YAMAGISHI, J. A. et al. Anemia Ferropriva: diagnóstico e tratamento. .Revista Científica Da Faculdade De Educação E Meio Ambiente, 8(1), 99–110, 2017. DOI: https://doi.org/10.31072/rcf.v8i1.438



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