Pé de Galinha: Além do Colágeno
- Beatriz Baltazar Rangel
- há 3 dias
- 4 min de leitura

Você já ouviu falar do pé de galinha? Talvez você conheça esse alimento como uma “fonte natural de colágeno” ou por alguma preparação, como caldo por exemplo.
O pé de galinha é majoritariamente consumido nos países asiáticos, em especial a China que é o maior importador de frango e seus subprodutos. Esse alimento aos poucos tem ganhado espaço no Brasil principalmente pelo seu baixo custo e aporte proteico, sendo consumido pelas populações de classes mais baixas e que sofrem com insegurança alimentar tendo o consumo aumentado em 26% no ano de 2021.

Esse subproduto da carne de frango é obtido pela indústria granjeira ao final do processo de abate, em que na etapa de evisceração são retiradas as vísceras, pés e cabeça do animal sendo destinados a uma etapa de limpeza e resfriamento seguindo para embalagem e distribuição. Sendo assim, o Brasil produz cerca de 185 mil toneladas de pé de galinha por ano tanto para exportação quanto para o consumo interno.
Uma porção de 120g de pé de galinha (1 unidade) contém 12g de proteína, 0g de carboidrato, 6g de gorduras totais, 2g de gorduras trans, 43mg de colesterol e 58mg de sódio. Esse alimento é popularmente conhecido por ser uma ótima fonte da proteína colágeno (cerca de 35% da sua composição) quando comparado a outras fontes, como os peixes que apresentam a maior parte do colágeno concentrado na pele (cerca de 50%), que muitas vezes não é consumida.

O colágeno é uma proteína fibrosa de origem animal, estando presente em vários tecidos do corpo, como o tecido conjuntivo por exemplo. Na sua síntese é importante a presença da vitamina C que atua como um cofator, que estimula a proliferação celular e consequentemente a síntese do colágeno. Essa proteína garante firmeza a estruturas do corpo que não precisam de sustentação dos ossos, além de garantir firmeza a pele. Com o processo natural de envelhecimento, a produção de colágeno é reduzida fazendo com que ele se torne mais fragmentado por conta de uma menor produção pelos fibroblastos.
Esse subproduto da carne de frango não é apenas consumido pelos indivíduos na forma “in natura”, uma vez que mesmo não sendo de conhecimento da população ele está presente em diversos alimentos. O pé de galinha pode ser fervido para obter um caldo gelatinoso ou adicionado aos produtos na forma em pó, que é resultado de uma desidratação e moído em seguida, exercendo função gelificante, espessante ou estabilizante e que retém umidade, além de ser utilizado como um substituto de gordura.

As preparações em que é utilizado normalmente na forma de ensopado, no preparo de caldos para dar consistência e sabor, em algumas gelatinas e linguiças. É comumente encontrado em preparações asiáticas, a exemplo do Lámen, ao estilo coreano com molho de pimenta e saquê e sopa de frango preta, conhecida popularmente por suas propriedades medicinais pelos praticantes da medicina chinesa.
Ademais, o consumo de pé de galinha no cotidiano pode fazer bem para pele, cabelo e unhas, além de que estudos têm mostrado o uso desse insumo para a produção de hidrolisados proteicos que podem ter propriedades anti-hipertensivas, que pode atuar inibindo a ação de vasoconstritores, Angiotensina II, porém são necessários mais estudos para essa confirmação. Este consumo do pé de galinha é importante já que a pressão alta pode levar ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares-uma das principais causas de morte ao redor do mundo-. Um ponto relevante é que o pé de galinha por ser uma boa fonte proteica e mais acessível quando comparado a carne vermelha por exemplo, evita que populações mais pobres sofram algum tipo de deficiência relacionada a esse macronutriente fundamental para o corpo humano.

O colágeno apresenta funções importantes para os seres humanos. Além da firmeza na pele, essa proteína constitui os ossos sendo um fator importante quando se fala na prevenção e tratamento de doenças como osteoporose e osteoartrite. O envelhecimento associado a maus hábitos alimentares pode fazer com que indivíduo fique mais exposto a essas possíveis doenças, tornando relevante a alternativa de suplementar o colágeno em pessoas mais velhas.
Logo, pode-se concluir que as populações asiáticas já possuem conhecimento acerca dos benefícios do consumo de pé de galinha, que aos poucos tem sido mais aceito em outras localidades, como no Brasil. Apesar de causar um certo estranhamento em um primeiro momento, é um excelente alimento para ser inserido na rotina, tanto pelo seu fácil acesso e baixo custo quanto pelos inúmeros benefícios que promove à saúde e que algumas pessoas ainda desconhecem.
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