Por Kevin Costa
No mundo todo existem matérias e substâncias de tamanhos variados... grandes, médias, pequenas e até as que não conseguimos ver a olho nu. Mas, então como nós conseguimos vê-las, já que não é possível visualiza-las à olho nu?
Você conhece o equipamento chamado microscópio? Sabe como ele funciona? Como utiliza-lo? Sabia que há uma forma de análise em alimentos que usa o microscópio como seu principal equipamento de investigação? E qual o objetivo dela e como ela atua? Vamos agora “descascar a ciência” e descobrir melhor sobre esse equipamento.
Não se sabe ao certo quem inventou o microscópio ou quando foi criado, e pelo o que é mencionado, parece ser um produto originado de uma cadeira de eventos. O primeiro microscópio montado foi em 1590 pelos holandeses Hans Janssen e seu filho Zacharias, construtores de óculos, que criaram um aparelho lupas que permitia observar objetos menores.
O microscópio foi inventado para aumentar a capacidade dos nossos olhos para enxergar o “mundo invisível” que existe ao nosso redor, com esses equipamentos é possível ampliar as imagens de objetos minúsculos, proporcionando melhor visualização, já que quando observamos através da lente do microscópio vemos uma imagem virtual aumentada da imagem real.
Ele é formado por dois conjuntos de lentes de aumento (as oculares e objetivas), sendo responsáveis por reproduzirem a imagem aumentada da amostra observada. Além delas, o microscópio possui uma parte mecânica que incluem: base, braço (ou estativo), revólver (ou mecanismo de trocas das objetivas), platina (ou mesa), charriot (ou carro), parafusos macro e micrométrico e também um sistema de iluminação envolvem: lâmpada, diafragma, condensador e os filtros.
O microscópio óptico é um equipamento de fácil uso, mas requer alguns cuidados. Você sabe como usá-lo?
Acenda a lâmpada e gire o revólver e coloque na objetiva de menor aumento
Insira a lâmina sobre a platina com a parte da lamínula voltada para cima.
Com o charriot, centralize a lâmina ao meio do campo de visão.
Focalize a amostra com a objetiva de menor aumento, usando a princípio o parafuso macrométrico. Para facilitar, você pode descer platina ao máximo e depois ir aproximando aos poucos, girando o macrométrico até obter o foco.
Melhore o foco com o parafuso micrométrico.
Gire o revólver para a próxima objetiva. Com o parafuso micrométrico, focalize.
Usando o charriot, escolha a área que deseja e centralize-a no campo de visão.
Para utilizar a objetiva de maior aumento (100x), coloque o revólver em posição entre a objetiva anterior e a de 100x. Observação: somente utilizar a objetiva de 100x em amostras que de fato necessitem.
Insira em seguida uma gota de óleo de imersão (usado para favorecer a visualização na objetiva de 100x) sobre a lâmina, e abaixe a objetiva cuidadosamente para não quebrar a lâmina, focalize com parafuso micrométrico somente
Após utilizá-la, volte para a objetiva anterior e limpe a objetiva de 100x com um papel macio e seco.
Ao finalizar o uso do microscópio, não se esqueça de retirar a lâmina, retornar a objetiva de menor aumento, desligar a luz e tirar o fio da tomada. Cubra-o para protege-lo de poeira.
Existem variados tipos de microscópios, cada um para uma especialidade, sendo os mais comuns os ópticos e os eletrônicos.
O microscópio óptico (ou de luz ou fotônico) funciona usando uma fonte de luz em um sistema de lentes que se dirigem a uma amostra colocada em uma lâmina de vidro. Esse feixe de luz passa pela amostra, sendo captado pela lente objetiva, ela gerará uma imagem aumentada da amostra na lamina de vidro, que logo depois é captada pela lente ocular, que fará a projeção da imagem final para o observador. Existem diferentes tipos de microscópios ópticos, cada um com diversos acessórios, tipos de iluminação e tipos de lentes distintos, com seus benefícios, limitações e direcionados a certas funções.
Outros tipos de microscópios muito usados são os microscópios eletrônicos, diferentemente dos ópticos, neles usam-se lentes eletromagnéticas que focalizam um feixe de elétrons originados de um gerador de elétrons, formando uma imagem. Eles possuem resolução melhor que dos microscópios ópticos, porém são mais caros. Há dois tipos básicos de microscópios eletrônicos: o microscópio de transmissão e o microscópio de varredura, ambos criados na mesma época, mas com objetivos diferentes.
Uma das formas de análise com o uso do microscópio é a microscopia de alimentos, geralmente microscópio óptico e o estereomicroscópio (também chamado de lupa, que ajuda na visualização de matérias macrométricas). Com ela, é possível identificar os alimentos e apontar a existência de fraudes e matérias estranhas podendo assim, auxiliar no controle de qualidade dos alimentos, fornecendo informações importantes de falhas na elaboração do produto e contribuir com a proteção da saúde da população. Ela permite avaliar a presença por exemplo de cabelo humano ou de pedaços de insetos em doces ou em produtos de panificação, areia adicionada a condimentos em pó e até fungos em massas de tomate.
Alguns trabalhos publicados comprovam a eficácia e as diversas utilidades da microscopia de alimentos. Como nos trabalhos a seguir, que utilizaram os métodos de microscopia para analisar um produto bastante consumido, o café.
No trabalho realizado por Silva e colaboradores no ano de 2019, na região de Sete Lagoas-MG, 10 amostras de café torrado e moído de 250g foram usadas para análise microscópica, 5 embaladas e as outras 5 a granel. A partir do resultado demostrou-se que 80% das amostras coletadas apresentaram algum tipo de matéria estranha. Já no trabalho realizado por Assis, Marques e Silva no ano 2020, eles analisaram 4 marcas de café, sendo três comercializadas no Rio de Janeiro e uma em Minas Gerais. Todas as marcas apresentaram inconformidades, tanto em relação a fraudes quanto na presença de matérias estranhas.
No Brasil, a microscopia de alimentos iniciou-se em 1940, no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo no qual diversos métodos de análise histológica e de sujidades foram elaborados ou modificados ao decorrer dos anos. Em 1967, foi publicado pelo Instituto, as Normas de Qualidade para Alimentos, onde inseriram a análise de alimentos pelo método microscópico.
E em 31 de março de 2014 foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), a Resolução – RDC n°14, a mais recente norma vigente. Ela aborda sobre as matérias estranhas macroscópicas e microscópicas em alimentos e bebidas, em que critérios se baseia, limites de tolerância e entre outros.
Ficou curioso para conhecer melhor sobre esta norma? Quer saber quais são seus critérios, tolerâncias? No nosso próximo artigo falaremos melhor sobre essa norma e o que são essas tão faladas “matérias estranhas” e você verá como conhecimento da microscopia de alimentos é importante para a identificação das mesmas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 14, de 28 de março de 2014. Dispõe sobre matérias estranhas macroscópicas e microscópicas em alimentos e bebidas, seus limites de tolerância e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 mar. 2014.
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