Você sabe o que são edulcorantes? Já ouviu falar do Neotame?
Primeiramente, os edulcorantes são substâncias que possuem a caraterística de adoçar alimentos e bebidas. São popularmente conhecidas como adoçantes e podem ser desenvolvidos a partir de extratos naturais, ou de substâncias sintéticas em laboratório com elevado poder de dulçor e baixíssimo impacto energético.
O Neotame é um composto químico sintético produzido com a finalidade de adoçar os alimentos em substituição à sacarose - açúcar tradicional de mesa. Dito isso, o neotame pertence à categoria dos edulcorantes - mais conhecidos como adoçantes artificiais não nutritivos - de reduzido ou de valor energético inexistente por conta da característica que possui de rápida metabolização e eliminação, consequentemente, não há acúmulo no organismo.
Como produto, o neotame foi descoberto pelos pesquisadores Jean Marie Tinti e Claude Notre na Universidade Claude Barnard na década de 1980. Todavia, o edulcorante só foi aprovado em 2002 como adoçante destinado a todos os usos pela Food and Drug Administration (FDA) - em português lê-se Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, que consiste numa Agência governamental responsável por realizar o controle de alimentos, suplementos alimentares, medicamentos entre outros.
O neotame é o adoçante que possui o maior teor de dulçor existente, sendo cerca de 7 a 13 mil vezes mais doce que o açúcar comum e não possui sabor residual amargo ou metálico. Quanto à estrutura química é produzido a partir da N-alquilação do aspartame e é um dipeptídeo com a presença dos aminoácidos ácido aspártico e fenilalanina. O neotame é bastante estável e tem alto grau de doçura, o que influencia no uso na produção dos alimentos. A concentração utilizada em preparações é bastante reduzida a ponto de dispensar necessidade de rotulagem de alerta para pessoas que possuem fenilcetonúria - condição genética que impossibilita a metabolização correta do aminoácido fenilalanina que se acumula no organismo levando a consequência graves de saúde.
Além disso, o neotame também apresenta sinergia com outros edulcorantes como o aspartame, sacarina sódica, acesulfame de potássio além da própria sacarose. Esse sinergismo com outros edulcorantes favorece características interessantes utilizadas pela indústria como a aplicação de blends - uso de edulcorantes diferentes combinados - que permitem que sejam preservadas as melhores características de cada edulcorante utilizado como potencialização do dulçor com o uso de menores concentrações, redução do sabor amargo, redução do sabor metálico residual considerando a relação de custo benefício. Assim, em termos sensoriais há variações conforme o tipo de alimento com o qual ele interage e da composição da mistura utilizada na busca de uma resposta positiva do paladar no que se refere ao sabor doce.
Conforme estabelecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura e pela Organização Mundial da Saúde, foram estabelecidos parâmetros mínimos para o consumo desse edulcorante de forma segura. A IDA - Ingestão Diária Aceitável - é uma medida que estabelece uma média diária segura para o consumo de substâncias químicas da categoria de aditivos alimentares para adultos com o peso normal, sendo desconsiderada a avaliação em crianças por conta da rápida eliminação desses produtos químicos. O neotame tem como limite seguro a administração de até 0,02 mg/kg/dia - 0,02 mg da substância por quilo de peso corporal em um dia, isto significa que uma pessoa com 50 kg pode consumir 1 g deste por dia.
Nas embalagens de produtos é possível verificar a presença do neotame por meio da sigla INS: E-961. Essa referência ao edulcorante segue o sistema internacional de numeração para a identificação de contaminantes e aditivos alimentares que usa o sistema numérico no lugar do nome do próprio aditivo.
Embora considerado como uma substância segura dentro da faixa de uso estabelecida pelos órgãos governamentais, existem controvérsias sobre os impactos da utilização desses edulcorantes em seres humanos em termos de saúde. Mesmo havendo uma relação estreita entre a redução de peso associada ao uso de edulcorantes em situação de balanço energético desfavorável, não é possível dizer que a utilização isolada pode promover o emagrecimento ou realizar a manutenção do peso, segundo parecer da Organização Mundial da Saúde. Além disso, há a existência de estudos prospectivos de longo prazo que estão investigando possíveis alterações na população da microbiota intestinal que está diretamente relacionada a desfechos positivos de saúde em humanos, em razão do consumo de edulcorantes artificiais, como o neotame. Tais alterações podem contribuir para o desenvolvimento de distúrbios metabólicos que levam a risco de obesidade, risco cardiovascular e desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2.
Assim, os efeitos do neotame, bem como dos demais edulcorantes artificiais não calóricos sobre a microbiota intestinal ainda carecem de mais informações para serem completamente elucidados. Ideal manter uma alimentação equilibrada, rica em alimentos in natura, e com menor consumo de alimentos ricos em açúcares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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