Psyllium, você já ouviu falar? Seu consumo é benéfico?
- Beatriz Spena Machado
- 17 de mar. de 2024
- 6 min de leitura

A utilização de suplementos e alimentos como mecanismo para melhorar a qualidade de vida e prevenir diversas doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, obesidade e hipertensão, tornou-se uma realidade nas últimas décadas. No mundo da nutrição, diversas estratégias alimentares são feitas visando a praticidade e efetividade dos resultados. Entre múltiplos alimentos com potencial benéfico à saúde, neste texto falaremos do Psyllium, suas funções no organismo e para quais indivíduos ele pode beneficiar mais significativamente. Você já ouviu falar deste alimento? Sabe o que é? Ficou curioso para descobrir se o Psyllium faz parte dos suplementos que valem a pena?
Então vem descascar a ciência com a gente!
O Psyllium,é uma mucilagem constituída por polissacarídeos pouco ramificados, que produz uma farinha proveniente da casca e sementes de plantas do gênero Plantago, tem-se popularizado por ser uma fonte alimentar de fibras solúveis e insolúveis. No entanto, o maior componente do Psyllium são as fibras solúveis, caracterizadas como géis em contato com água. Também em menores quantidades, contém lipídios, proteínas, ácido oxálico, enzima invertase e emulsina (ZANDONADI, 2006).
Portanto, por ser rico em fibras, a suplementação do Psyllium traz múltiplos benefícios para a saúde intestinal e sanguínea dos consumidores. Sua comercialização geralmente é feita por meio de cápsulas ou farinha. (BERNAUD,2013).
A indústria alimentícia utiliza o Psyllium na fortificação de alimentos e receitas, formulação de produtos para indivíduos que apresentam doença celíaca como substituto do glúten, e com o intuito de aumentar o teor de fibras dos alimentos. Por alguns profissionais nutricionistas, costuma ser aplicado como um auxiliar na perda de peso, no tratamento de constipação crônica, hiperglicemia e hipercolesterolemia (EVANGELISTA, 2022).
Figura 1: Psyllium (Plantago ovata) e semente.
Fonte: ZANDONADI, 2006.
Figura 2: Farinha do Psyllium
Mas por que o psyllium é um dos bons exemplos de que suplementos podem vir a ser úteis para certos indivíduos?

Em contato com água, o Psyllium forma massas viscosas (géis). Essa massa viscosa, no intestino, é responsável por reter os nutrientes, protegendo-os das enzimas digestivas, o que, por consequência, diminui a absorção (CLARO, 2020).
O aumento da viscosidade do bolo alimentar ocasiona no retardo do esvaziamento gástrico, resultando em uma maior saciedade. Além disso, por diminuir a absorção de carboidratos e lipídios no intestino, possui efeitos no controle sanguíneo da glicose, dos ácidos biliares e dos ácidos graxos após a refeição. Possui efeito prebiótico, uma vez que sua porção solúvel fornece nutrientes para as bactérias intestinais, influenciando, assim, na motilidade intestinal. Com isso, estudos sugerem que o Psyllium possui ação hipoglicemiante e hipocolesterolêmica, além de diminuir o consumo calórico diário (BERNAUD,2013, EVANGELISTA, 2022 e CLARO, 2020).
Na constipação também se mostrou eficaz por conter uma porcentagem (%) de fibras insolúveis, que não são fermentadas pela microbiota do intestino grosso. Isso resulta em uma maior absorção de água, o que aumenta o volume das fezes duras, deixando-as macias e fluidas, facilitando a evacuação. Uma das particularidades do Psyllium em relação às outras fontes de fibras solúveis, como por exemplo a aveia, é devido a essa porção não fermentada por bactérias intestinais, o que causa menos flatulência (EVANGELISTA, 2022 e CLARO, 2020).
A suplementação do Psyllium poderia, ainda, melhorar a sensibilidade à insulina, reduzir as medidas antropométricas como IMC e peso corporal em pacientes com síndrome metabólica e atenuar os riscos de desenvolver Diabetes melito tipo II, doenças cardiovasculares e câncer de cólon (BERNAUD,2013 e EVANGELISTA, 2022).
Psyllium como substituto do glúten: estratégia para celíacos
Em geral, as fibras, em alimentos, fornecem algumas propriedades físico-químicas importantes para a realização de diversas receitas e, por isso, além de serem utilizadas no enriquecimento de produtos, podem ser aplicadas como um ingrediente. Frequentemente, na indústria de alimentos, substituem a gordura ou atuam como agente estabilizante, espessante e emulsificante. Desta forma, podem ser aproveitadas na elaboração de diferentes produtos: bebidas, sopas, molhos, sobremesas, derivados de leite, biscoitos, massas e pães (ZANDONADI, 2006).

A doença celíaca (DC) é uma enteropatia imunomediada, que apresenta intolerância permanente à proteína glúten ingerida, a qual atualmente tem como única forma de tratamento a retirada do glúten da dieta. Os indivíduos portadores de DC apresentam dificuldade na aquisição e também no preparo de alimentos isentos de glúten, o que dificulta a adesão ao tratamento. Além disso, os alimentos modificados para esse tipo de patologia apresentam prejuízos nas características sensoriais e, para compensar tecnologicamente a retirada do glúten, acrescenta-se grande quantidade de lipídios a essas preparações, o que conduz ao ganho excessivo de peso dos indivíduos em tratamento (ZANDONADI, 2006). Com isso, nota-se a importância da descoberta de novos substitutos naturais de glúten, que mantenham as características sensoriais dos produtos, facilitando a adesão à dieta celíaca.
O Psyllium é uma das alternativas que vem sendo estudada. Em massas de panificação, fornece propriedades tecnológicas essenciais por meio da retenção de água e gelatinização. Ademais, a literatura disserta sua aplicação em sorvetes, bolos, biscoitos, pães, geléias, entre outros, com a finalidade de aumentar o teor de fibra do alimento, ou também, de melhorar a consistência, deixando os produtos macios, estáveis e coesos, pois evita o esfarelamento. Portanto, esse suplemento pode ser útil para portadores de doença celíaca, uma vez que confere características funcionais semelhantes às do glúten em preparações e não altera o sabor e o aroma dos alimentos (ZANDONADI, 2006 e CLARO, 2020).
Bônus: receitinha!
● Muffins de Psyllium
Ingredientes:
- 2 colheres de chá de Psyllium
- 2 colheres de sopa de creme de leite
- 2 colheres de sopa de farinha de amêndoas
- 1 colher de sopa de queijo parmesão
- 2 ovos inteiros
- 1 pitada de sal
- 1 colher de chá de fermento em pó
Modo de preparo:
Misture tudo, adicionando por último o fermento em pó
Despeje a mistura em formas de muffin levemente untadas
Asse em forno pré-aquecido a 180°C por 10-15 minutos
Conclui-se, então, que o Psyllium pode apresentar inúmeras funcionalidades fisiológicas para os consumidores, assim como funções tecnológicas para a indústria de alimentos. Se a suplementação de Psyllium vale a pena ou não, é uma discussão entre o nutricionista e o paciente sobre os objetivos e a praticidade que o mesmo está procurando. Segundo o Guia alimentar da população Brasileira, o aporte de macronutrientes, vitaminas, minerais e compostos bioativos necessários para a manutenção da saúde podem ser atingidos através apenas da alimentação, sem a prática da suplementação. O que nos leva a refletir quando e o que pode ser interessante suplementar.
Porém, sabe-se que o consumo de fibras, geralmente, é abaixo do valor recomendado de 25 g/dia, recomendado pela Dietary Reference Intakes (DRI) 2005. Este se deve ao fato de que as dietas ocidentais são ricas em alimentos industrializados, que, em grande maioria, apresentam alto teor de sódio, gordura saturada e açúcar adicionado e baixo teor de fibras, resultando em um desequilíbrio nutricional da população (BLEIL, 1998).
Por isso, para alguns profissionais, o Psyllium é uma estratégia prática e eficiente para suprir a necessidade diária de fibras, além de ser mais aceitável sensorialmente, tendo em vista que não altera o sabor e o aroma dos alimentos e causa menos flatulência em relação às outras fontes de fibras. Podendo ser interessante para indivíduos com: diabetes, excesso de peso, constipação crônica, doenças cardiovasculares e colesterol alto. Lembrando sempre que a orientação nutricional é individualizada, sendo importante a consulta com um nutricionista para que suas necessidades de nutrientes sejam atendidas e estejam adequadas à ingestão individual.
Referências bibliográficas:
BERNAUD, F. S. R. et. al. Fibra alimentar- Ingestão adequada e efeitos sobre a saúde do metabolismo. Arq Bras Endocrinal Metab. 2013:57/6.
BLEIL, S. I. O padrão alimentar ocidental: considerações sobre a mudança de hábitos no Brasil. Rev. Cadernos de Debate, v. VI/1998, p. 1-25.
CLARO, A. G. P. et al. Nutrição funcional: a fibra Psyllium e seus benefícios na glicemia. Alimento, Nutrição e Saúde 4. Cap 11, p.126. 2020.
EVANGELISTA, L. S. S. Efeitos do Plantago Ovata na perda de peso: uma revisão da literatura. Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde. Salvador, v.10, n.10, p. 93-99,2022.
Institute Of Medicine (IOM). Dietary Reference Intakes For Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein and Amino Acids, 2005. DOI 10.17226/10490.
Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira, 2° edição, Brasília, 2014.
ZANDONADI, R. P. Psyllium como substituto de glúten. Dissertação (Mestrado em Nutrição Humana), Universidade de Brasília, 2006.
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