A romã é o fruto da árvore românzeira que pertence à espécie Punica granatum, de origem asiática englobando regiões do Norte da África, Oriente Médio até a cordilheira do Himalaia ao norte da Índia. O nome científico da romã, significa "maçã com grãos" por conta da disposição das suas sementes. É uma planta resistente à seca e adaptável a diversos climas, sendo amplamente cultivada ao redor do mundo. O seu consumo se dá de forma integral já que partes, como folhas, raízes e flores, são apreciadas na medicina por seus benefícios à saúde.
Historicamente, a romã teve um impacto cultural profundo, sendo mencionada na Bíblia e no Corão como símbolo de fertilidade, abundância e imortalidade. No Egito Antigo, era associada à deusa Ísis e reverenciada em rituais religiosos, enquanto na Grécia Antiga, estava ligada à deusa Perséfone e aos ciclos de vida e morte. Durante o Império Romano, a fruta se espalhou pelo Mediterrâneo, apreciada por seu sabor e propriedades medicinais, documentadas por médicos como Hipócrates e Dioscórides. Por fim, atravessou o oceano Atlântico com a chegada dos colonizadores espanhóis ao Novo Mundo se popularizando em novos territórios. Hoje, suas aplicações medicinais são amplamente reconhecidas em sistemas tradicionais como a medicina Ayurveda e a Medicina Tradicional Chinesa, sendo utilizada em alimentos, sucos, óleos essenciais e cosméticos para tratar uma variedade de condições.
A produção anual de romã é significativa, alcançando cerca de 1,5 milhões de toneladas, e a fruta está entre as vinte mais consumidas do mundo. Além de seu uso na alimentação, a romã é amplamente empregada em produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentícios, como sucos, geleias, vinhos, séruns antiidade e suplementos nutricionais. Os subprodutos do processamento da romã, que representam pouco mais de 50% do fruto, apresentam grande potencial como fontes de compostos bioativos.
A romã é um fruto não climatérico, devendo ser colhida em plena maturidade, pois não amadurece após a colheita. Sua ampla distribuição mundial resulta em uma grande diversidade genética que afeta seu perfil fitoquímico. A casca é resistente e rica em antioxidantes sendo usada em suplementos e cosméticos, já o mesocarpo interno protege os arilos, que são a parte comestível e suculenta da fruta que fornece nutrientes e antioxidantes, enquanto as sementes contêm fibras e óleos com ação benéfica à saúde humana.
Sua riqueza em fitoquímicos, é comprovada pelo elevado teor de polifenóis, já que mais de 150 compostos fenólicos já foram identificados no fruto. Dentre eles, temos destaque para os taninos hidrolisáveis (elagitaninos) formados pela ligação de ácido elágico e gálico a hidratos de carbono, conhecidos como punicalaginas. A cor vermelha do suco é atribuída às antocianinas, como delfinidina, cianidina e pelargonidina, na forma glicosilada. Além desses, a romã contém flavonóis como a quercetina e vários ácidos fenólicos, incluindo, ácido o- e p-cumárico, ácido caféico e clorogênico.
A casca da romã ainda possui maior teor de compostos fenólicos, como taninos, catequinas, galocatequinas e prodelfinidinas, com até três vezes mais compostos do que o suco, incluindo cerca de 30% das antocianinas da fruta, como cianidina-3,5-O-diglucósido e pelargonidina-3,5-O-diglucósido.
Por essas características é um alimento funcional e nutracêutico, rica em vitamina C, potássio, cálcio, ferro, magnésio, sódio, fósforo e fibras dietéticas, além dos compostos bioativos como as antocianinas e taninos, que protegem as células contra o estresse oxidativo, possuindo propriedades anticancerígenas, anti-inflamatórias, antienvelhecimento e prebióticas, assim contribuindo para a prevenção de doenças crônicas como diabetes e doenças cardiovasculares. Medicinalmente, a romã é utilizada no tratamento de diversas condições, como dislipidemia, hipertensão e resistência à insulina, e suas partes, como folhas, raízes e flores, são reconhecidas por suas propriedades cicatrizantes, antioxidantes e antimicrobianas com aplicações na Medicina Tradicional Chinesa, para tratar disenteria e micose de forma isolada e/ou em combinação com outras ervas.
Essas propriedades terapêuticas são decorrentes da alta concentração das punicalaginas e a punicalinas na casca da romã que tem ação quimiopreventiva e quimioterápica. Estudos mostram que ela possui efeitos antiproliferativos e antitumorígenos, particularmente eficazes em diferentes tipos de câncer, como de mama, próstata e pele.
Estudos mostram que dietas ricas em polifenóis estão associadas a menores incidências de condições como diabetes, distúrbios cardiovasculares, envelhecimento precoce, infertilidade masculina, doença de Alzheimer e AIDS. Assim, a romã é uma planta de valor medicinal significativo em diversas áreas da saúde.
O uso da romã e seus derivados deve ser feito com cautela, pois a casca pode interagir com certos medicamentos, exigindo discernimento em sua utilização. Embora estudos em laboratório e modelos animais indiquem que a casca tem uma margem de segurança relativamente alta, com uma dose letal média (DL50) de 1321 ± 15 mg/kg para o extrato aquoso, mais pesquisas clínicas são necessárias para validar completamente seus usos terapêuticos e explorar todo o seu potencial, garantindo a segurança e eficácia.
Por conta de todas essas características, a romã é uma fruta de importância histórica, cultural e medicinal com um legado rico e um potencial terapêutico significativo. Tanto a casca quanto seu conteúdo interno são recursos valiosos tanto na alimentação quanto na medicina. À medida que a pesquisa avança, a romã poderá contribuir ainda mais para o desenvolvimento de novas estratégias de prevenção e tratamento de doenças, consolidando seu papel como um verdadeiro tesouro da natureza.
Referências Bibliográficas:
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