Tenébrio: Seria ele a proteína do futuro?

Desde a pandemia da Covid-19, houve um grande aumento do investimento populacional no ramo fitness. Em um levantamento foi registrado o crescimento de 35% no valor transacionado com academias, moda esportiva e suplementação, sendo ele feitos tanto pela Geração Z (nascidos entre 1995 a 2010) quanto pela Y (1982 a 1994). Assim, percebe-se uma crescente preocupação de jovens e adultos quanto ao consumo, principalmente, de proteínas, seguido da procura da mesma, no ramo de suplementos alimentares, como na forma de proteínas em pó (Whey Protein) de acordo com uma matéria publicada no site da revista “Veja Saúde”.

Entretanto, você sabia que já existem diversas fontes de proteínas advindas dos alimentos que você já consome no dia a dia? Elas podem ser encontradas em vários alimentos, como nas carnes, leites e seus derivados e até em leguminosas! De forma mais incomum, está no consumo de uma nova fonte de proteína natural, o Tenébrio, uma larva de besouro, comumente denominada como Larva-da-Farinha. Você já conhecia?

O Tenébrio (Tenebrio molitor) já é uma fonte alimentar consumida por humanos muito conhecida em países como a China, Coréia, Holanda, França, Suíça e Espanha. No Oriente é ingerida na forma de insetos inteiros, crus ou cozidos de variadas formas. Já na Europa, essa larva é utilizada como ração úmida para animais de estimação, na fabricação de produtos proteicos, como proteínas em pó e seus derivados, para humanos e produtos específicos para atletas.

É importante dizer, que o Tenebrio molitor é o primeiro inseto aprovado pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar como um novo alimento seguro em condições e usos específicos abordados no Regulamento UE 2015/2283, dado ao seu grande potencial nos ramos alimentício, farmacêutico e nutracêutico. Além de ser uma fonte muito mais sustentável quando comparada com a fabricação de outros alimentos de origem animal, por reproduzir e crescer rapidamente, ter uma fração comestível aproveitável de quase 100% (quase não gera resíduos), emitir menos gases de efeito estufa e amônia, e necessitar de menos água e terra para a sua produção.

Já no Brasil, a legislação ainda não prevê o consumo de insetos tanto para animais, na forma de ração, quanto para humanos, porém, vale ressaltar que é uma área de interesse para diversos pesquisadores, agricultores e empresas do país.

Ciclo da Vida e os Criadouros

De acordo com um estudo realizado por estudantes da Universidade Federal do Rio Grande, a duração do ciclo da vida do Tenébrio varia de 280 a 630 dias, em que se inicia com o acasalamento dos besouros e, após, ocorre a deposição dos ovos da fêmea (em média 400 a 500 ovos), que são submetidos a temperaturas em torno de 20°C até a eclosão das larvas. O período larval é marcado pelo crescimento e pela eliminação do exoesqueleto delas, em que depois, a larva se transforma em pupa para, finalmente, atingir a fase adulta na forma de besouro.

Figura 1. Ciclo de vida do Tenebrio molitor.

Fonte: Benevenuto et al., 2020.

Os criadouros utilizam bandejas de diferentes materiais ou caixas furadas separados de acordo com o estágio do ciclo da vida do inseto, em que elas são dispostas em locais escuros (por causa dos hábitos noturnos desse animal), com umidade relativa de 13% a 70% e temperatura na faixa de 20 a 30°C. O substrato utilizado na criação do Tenébrio é composto por cereais (como o trigo, aveia e milho) que podem ser enriquecidos com farinha de soja, leite em pó desnatado ou fermento; e seu consumo de água é feito a partir da água presente em legumes (como a cenoura e a batata).

Características Nutricionais e Possíveis Produtos Alimentícios

O Tenébrio possui um teor de proteína maior do que fontes tradicionais, que pode alcançar um teor de 40% a até 70% de seu peso seco, enquanto em carnes magras varia entre 21% a 22%. Além disso, ele detém alto teor de aminoácidos essenciais;  Maior digestibilidade; São uma boa fonte de ácidos graxos mono e poliinsaturados (como os ômegas 3 e 6), de micronutrientes (como o ferro e o tocoferol - vitamina E -, por exemplo), de fibras (como a quitina) e de compostos bioativos (como polifenóis, enzimas, peptídeos e terpenóides); Possui baixo teor calórico e mínimo teor de colesterol.

Já quanto a seu uso no setor alimentício, algumas pesquisas científicas identificaram o Tenébrio como um alimento facilmente solúvel e com um sabor neutro, podendo ser utilizado no preparo de panificações, salgadinhos, biscoitos, massas, chocolates, farinhas, óleos, barras de proteína, isolados proteicos em pó e até bebidas energéticas por sua alta versatilidade. Nesse sentido, já existem estudos que vêm testando o uso da farinha de tenébrio como uma forma de enriquecimento nutricional de biscoitos e de tintas para snacks gerados em impressão 3D. Incrível não é mesmo?!

Benefícios para a Saúde

Alguns estudos produzidos em animais e in vitro com diferentes preparos (geralmente farinhas, pó e extratos fermentados de Tenébrio) e quantidades desse inseto nas dietas, sugerem que o consumo do Tenébrio pode estar relacionado com a redução da obesidade (em que futuramente poderá ter a possibilidade de substituir medicamentos atuais que, apesar de já serem muito eficazes, possuem inúmeros efeitos colaterais) por diminuir o teor de lipídios intracelulares e o acúmulo de lipídios nos tecidos hepáticos; presença de atividades anti-trombose, antioxidante, anti-inflamatória, anti-diabética, hepatoprotetora; promoção da agregação plaquetária em lesões; atuação contra doenças cardiovasculares; auxílio na lactação materna e até no desenvolvimento do cérebro do feto. Um artigo publicado no jornal do Institute of Food Technologists explica que isso acontece por sua rica composição em ácidos graxos, proteínas, peptídeos, moléculas bioativas, quitina e quitosana.

Vale ressaltar que como ainda não foram feitos estudos analisando a ingestão desse alimento em humanos, esses resultados não podem ser relacionados diretamente com o nosso organismo, sendo necessárias mais evidências experimentais para avaliar sua influência.

Segurança no Consumo

Os riscos à segurança alimentar podem surgir a partir do próprio inseto, do substrato usado para alimentá-lo e da qualidade das técnicas da indústria, como na criação, na colheita e no processamento.

Assim, quanto à carga microbiana, podem estar presentes patógenos, esporulados e não esporulados, localizados, principalmente, no intestino e nas cutículas das larvas frescas, caso contaminadas. Já quanto à presença de vírus, estudos demonstram ser um risco baixo.

Além disso, o Tenébrio pode conter substâncias tóxicas advindas dos seus alimentos, como fatores antinutricionais, micotoxinas e metais pesados (principalmente quanto ao acúmulo de selênio e arsênio).

Por último, há a questão de possíveis reações alérgicas, em que não é recomendado o consumo dessas larvas para os indivíduos alérgicos aos frutos do mar, por ambos apresentarem a tropomiosina, um pan-alérgeno responsável por essa reação.

Dessa forma, percebe-se que o uso do Tenébrio como um possível alimento no Brasil poderia gerar inúmeros benefícios, tanto para a população, quanto para o meio ambiente quando aplicados às boas práticas industriais e de cozimento. Isto posto, é de extrema importância que sejam produzidas mais pesquisas relacionando a ingestão segura desse inseto em dietas humanas, para que a legislação do país seja modificada, permitindo assim, o seu consumo. Agora me diga, você comeria esse alimento nem um pouco convencional?!

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