Uso de Vísceras na Culinária Brasileira
- Stephanie Santos de Oliveira
- 7 de set.
- 3 min de leitura

Você sabia que, além da carne comum, outras partes dos animais também dão origem a receitas cheias de sabor e cultura? As vísceras, ou “miúdos”, estão presentes na culinária brasileira há séculos e vão muito além de ingredientes alternativos, se destacando não apenas pelo sabor, mas também pelo seu valor cultural e nutricional. Seu uso reflete o princípio do aproveitamento integral do alimento, contribuindo para a redução do desperdício e para uma alimentação mais sustentável.
O que são as vísceras?

As vísceras, também chamadas popularmente de “miúdos”, são os órgãos internos e partes não musculares dos animais, especialmente os órgãos localizados entre o crânio, abdômen e tórax. Além do consumo direto, as vísceras também encontram outros destinos importantes. No caso das aves, por exemplo, são aproveitadas na produção de farinhas ricas em ferro e cálcio, utilizadas como ingrediente na formulação de rações. Já as vísceras de peixes podem ser transformadas em matéria-prima para biodiesel, a partir dos óleos extraídos por piscicultores e destinados a empresas de energia. Dessa forma, além de contribuírem para a alimentação humana, os miúdos também geram alternativas econômicas sustentáveis e ampliam o aproveitamento dos recursos animais.
Entenda seu valor cultural e gastronômico | Aproveitamento integral do animal

As vísceras ocupam um papel essencial na culinária brasileira, refletindo a diversidade cultural do país. Pratos como o “sarapatel”, típico do Nordeste, são feitos com miúdos de porco e representam uma tradição herdada das cozinhas africana e portuguesa. A “dobradinha”, muito popular em São Paulo e em algumas regiões do Sul, utiliza o estômago de boi cozido com feijão branco e temperos, mostrando como cortes menos convencionais podem se transformar em pratos sofisticados e nutritivos.
No Centro-Oeste e em outras regiões, a feijoada se destaca como um ícone da gastronomia nacional. Preparada com feijão preto e diferentes cortes de porco e de boi, incluindo orelha, pé e outros miúdos, a feijoada é um exemplo de aproveitamento integral do animal e simboliza a mistura de culturas indígenas, africanas e europeias. Outro prato bastante apreciado em várias regiões do país é o coração de frango, frequentemente servido em churrascos, que, apesar de simples, faz parte da tradição do convívio social em festas e encontros familiares.
Além desses, há uma infinidade de preparações regionais que exploram o sabor e a versatilidade das vísceras. O fígado acebolado, a língua cozida e a moela refogada são apenas alguns exemplos de pratos que aparecem em cozinhas domésticas e restaurantes típicos, reforçando o valor cultural dessas partes dos animais. O consumo de vísceras não é apenas uma prática culinária: é também um elo com a história, a identidade e a criatividade da gastronomia brasileira, mostrando respeito pelo alimento e tradição em cada prato.
Valor nutricional

As vísceras são alimentos altamente nutritivos, ricos em proteínas de alto valor biológico, vitaminas e minerais essenciais. O fígado, por exemplo, se destaca por seu elevado teor de ferro heme, facilmente absorvível pelo organismo, além de vitaminas A e do complexo B, importantes para a visão, para o metabolismo energético e para a síntese de células sanguíneas. O coração e os rins também oferecem proteínas, vitaminas B12, B2 e minerais como selênio e zinco, que auxiliam no funcionamento do sistema imunológico e na saúde celular.
Além disso, algumas vísceras são fontes de colágeno e outros nutrientes específicos, presentes na língua e no estômago, que contribuem para a saúde das articulações, da pele e dos tecidos de sustentação. Apesar do alto valor nutricional, é importante consumi-las com moderação, pois algumas partes possuem colesterol e purinas em quantidades elevadas. Ainda assim, quando incluídas de forma equilibrada na dieta, as vísceras representam uma maneira eficaz de obter nutrientes essenciais e diversificar a alimentação.
Bibliografia
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