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Pamela Braga Louback

Vitamina D e o Cuidado na Suplementação

O QUE É A VITAMINA D?


O termo, popularmente empregado, “vitamina D” resume uma classe de compostos com a atividade biológica de 1alfa,25-(OH)2D (abreviação de 1alfa,25-di-hidroxivitamina D), conhecido como calcitriol. O 1alfa,25-(OH)2D tem dois precursores, vitamina D2 (chamada de ergosterol) e a vitamina D3 (chamada de colecalciferol) que também empregam o uso do termo “vitamina D”. Essa forma biologicamente ativa, o calcitriol, é reconhecida como um hormônio esteroide (CASTRO, 2011).

A vitamina D2 pode ser denominada como uma forma “artificial” de vitamina D, oriunda do reino vegetal (é utilizada para o enriquecimento de alimentos na indústria alimentícia), além de ser usada na indústria farmacológica e em suplementos. A vitamina D2 é metabolizada para a forma ativa (1alfa,25-(OH)2D2) de modo parecido com o que ocorre com a vitamina D3 (ZIEGLER, 2016; CASTRO, 2011).


ESTRUTURA QUÍMICA


No que tange à estrutura química das vitaminas D2 e D3, o que difere é a cadeia lateral que cada uma apresenta nas suas respectivas moléculas, pois a cadeia principal é a mesma para as duas. Na cadeia principal, há 19 carbonos, organizados em cadeias fechadas mais insaturações (duplas ligações entre os carbonos) nos trechos abertos. A cadeia lateral da vitamina D3 não contém insaturações, ou seja, é totalmente saturada (os carbonos não se ligam duplamente entre eles), diferentemente do que é encontrado na cadeia lateral da D2. No mais, as duas cadeias laterais são abertas (ZIEGLER, 2016).


Fonte: ZIEGLER (2016).


FISIOLOGIA/METABOLISMO


A vitamina D3 é derivada do 7-deidrocolesterol (7-DHC, um precursor de colesterol) e sua produção ocorre na pele. Ela é sintetizada por esse precursor e também necessita da presença de luz UVB (raios ultravioleta B) para que seja produzida (ZIEGLER, 2016).

A primeira etapa acontece nas camadas profundas da epiderme (camada superficial da pele), onde fica o 7-DHC. O 7-DHC precisa da ação da enzima 7-deidrocolesterol-redutase para ter uma boa atividade. Para que tudo isso ocorra, a exposição à luz solar (UVB, raios ultravioleta B) é fundamental, por esse motivo, pessoas que residem em regiões onde o sol “não está” muito presente são mais propícias à suplementação. Outro fator interessante nesse primeiro momento da ativação é a quantidade de melanina que o sujeito apresenta, pois pessoas com maior teor de melanina precisam de mais tempo de exposição no sol para a síntese de vitamina D (CASTRO, 2011).

Depois da absorção da luz solar pelo 7-DHC, acontece uma quebra fotolítica na molécula e origina-se uma outra molécula, a pré-vitamina D3. Quando a pré-vitamina D3 passa pelo calor, ela se transfigura e dá à luz à vitamina D3, o colecalciferol, que será levada para a corrente sanguínea (CASTRO, 2011).

Após a produção, ocorre o transporte pela glicoproteína ligadora de vitamina D (DBP) e levada até os locais de armazenamento, como o tecido adiposo, e/ou levada para ser ativada no fígado. No fígado, tanto a vitamina D3 quanto a D2 sofrem uma hidroxilação (introdução de um grupamento hidroxila -OH) mediada pela CYP2R1, uma enzima microssomal da família CYP450. Depois desse processo enzimático, a 25-hidroxivitamina D, 25(OH)D, é gerada (CASTRO, 2011).

A 25(OH)D se une à DBP e viaja com destino para vários tecidos que têm o conjunto celular que tenha a enzima 1-alfa-hidroxilase (CYP27B1), que é capaz de realizar uma outra hidroxilação e, assim, formar o calcitriol (1-alfa,25-diidroxi-vitamina D), o qual caracteriza o formato metabolicamente ativo de vitamina D (CASTRO, 2011).


DOENÇAS RELACIONADAS À DEFICIÊNCIA


A vitamina D é de grande importância para o corpo humano, uma vez que a sua presença preserva a integridade da massa óssea, e sua forma ativa ajuda na absorção do cálcio e fósforo e na reabsorção desses minerais nos túbulos renais. A vitamina D também é importante para a modulação da resposta imune, diferenciação e proliferação de células (ZIEGLER, 2016).

A deficiência de vitamina D pode causar um estado de hiperparatireoidismo, porque a falta da vitamina diminui a circulação de cálcio no sangue e, para compensar, leva o organismo a uma maior produção de paratormônio (hormônio responsável pela manutenção do cálcio no sangue), o qual “retira” o cálcio presente na massa óssea. Dessa forma, fragiliza a saúde dos ossos. Enfermidades como o raquitismo (insuficiência de mineralização ou calcificação da matriz óssea, causando deformações no esqueleto humano) e a osteomalácia estão conectadas com a deficiência de vitamina D. Percebe-se, então, que a ausência de níveis adequados de vitamina D afeta diretamente o âmbito musculoesquelético. (CASTRO, 2011)

O calcitriol, forma ativa, também auxilia a regulação do sistema renina-angiotensina e proporciona efeitos neuromusculares, melhorando aspectos como o equilíbrio e a força muscular (ZIEGLER, 2016; RODRIGUES et al, 2019).

Outras doenças como artrite reumatóide (doença imunomediada, crônica, que afeta as articulações), lúpus eritematoso sistêmico (doença autoimune inflamatória que pode alcançar diversas partes do corpo), diabetes tipo 1 (caracterizada pela produção insuficiente ou nula de insulina pelo pâncreas) e até mesmo a esclerose múltipla (doença também autoimune que ataca o sistema nervoso) podem estar relacionadas à deficiência de vitamina D no organismo (CÂMARA et al., 2021).


PRINCIPAIS FONTES EM ALIMENTOS

A famosa vitamina D é produzida pelo próprio corpo, por mediação da luz solar, mas também pode ser encontrada em alguns alimentos, mesmo que pouca quantidade seja oriunda da dieta. As fontes dietéticas de vitamina D são: peixes gordos de águas frias e profundas (como o bacalhau, atum e salmão), óleos de peixe, gema de ovo de galinha e fígado animal, no caso da vitamina D3 (colecalciferol). No caso da D2 (ergosterol), o reino vegetal a fornece por meio de fungos comestíveis, como os cogumelos (ZIEGLER, 2016; CASTRO, 2011).

Além disso, é possível encontrá-la em alimentos enriquecidos como cereais matinais, margarina e leite. Tal medida foi instaurada nos Estados Unidos por volta dos anos 30, a fim de mitigar os casos de raquitismo no país (ZIEGLER, 2016).


RECOMENDAÇÕES DIÁRIAS


Assim como todos os demais nutrientes, existem recomendações diárias para determinados grupos, de acordo com sexo e idade/estágio de vida. A ingestão dietética recomendada (RDA, sigla para o inglês Recommended Dietary Intake) para homens e mulheres de 9 a 70 anos é 600 UI (unidade internacional, que equivale a 15 microgramas), e 800 UI (20 microgramas) para os maiores de 71 anos. Existe, também, um limite de ingestão máxima tolerável (UL, sigla para o inglês upper limit), que classifica o valor referente a uma quantidade máxima que o corpo pode receber sem causar danos, o qual é de 4000 UI (100 microgramas) para toda a população de 9 a 70 anos (ZIEGLER, 2016).

A suplementação de vitamina D pode ser necessária em alguns casos. Por exemplo, em bebês que são amamentados, é importante suplementar a vitamina D, pois o leite materno não atende às demandas relacionadas a esse nutriente. É válida para populações que moram em regiões onde a luz solar não tem incidência favorecida na maior parte do tempo e onde as pessoas não priorizam uma alimentação que contenha as fontes dietéticas da vitamina (como peixes). Indivíduos com alto índice de massa corporal (IMC), os quais podem ter alto conteúdo de gordura no corpo podem se beneficiar com a suplementação, pois há a teoria de que o tecido adiposo “sequestra” grandes quantidades da vitamina D, uma vez que esta é lipofílica (tem afinidade por lipídio). Além disso, pessoas com doença renal crônica têm mais brecha para suplementar, porque a disfunção dos rins leva à intercorrência nos níveis de vitamina D. Vale ressaltar que a população idosa também merece um olhar mais válido para a suplementação do nutriente em questão, pois a produção de vitamina D na terceira idade é naturalmente defasada (ZIEGLER, 2016).

Ao cruzar os limites toleráveis de ingestão de vitamina D é possível gerar o estado de hipervitaminose (quantidade excessiva de vitamina), podendo ocasionar toxicidade e quadros como o de hipercalcemia (níveis exagerados de cálcio no sangue). A hipervitaminose prolongada de vitamina D pode levar à calcificação vascular (ZIEGLER, 2016).


CONCLUSÃO


A vitamina D e seus mecanismos são de grande importância para o bem estar do corpo humano. Ela é fundamental para a homeostase, principalmente no que diz respeito à funcionalidade e manutenção dos ossos. Com isso, ela é peça essencial para evitar dores, bem como doenças relacionadas à sua deficiência. A maior parte utilizada é produzida pelo próprio organismo, mas a alimentação também pode contribuir para elevar e adequar as quantidades diárias necessárias. Por ser lipossolúvel, ela fica armazenada por mais tempo no corpo e, dessa forma, a reposição, principalmente a suplementar, só deve ser feita em casos de necessidades. O requerimento deve ser feito por um nutricionista e/ou um médico, depois da avaliação por exames, sobretudo o de sangue. Fazer a auto suplementação não é indicado, pois altas doses contínuas podem ocasionar danos à saúde do indivíduo, ainda mais no quesito da regulação de cálcio. Por isso, busque ajuda profissional para saber se, de fato, a suplementação se faz necessária, a fim de evitar malefícios para a sua saúde.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CÂMARA, J.; VILAS BOAS, R.; NETO, L.; DOS SANTOS, S. Vitamina D: uma revisão narrativa. Brazilian Journal of Health Review. Abril de 2021.


CASTRO, L. O sistema endocrinológico vitamina D. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, novembro de 2011.


RODRIGUES, B. et al. Vitamina D na regulação do organismo humano e implicações de sua deficiência corporal. Brazilian Journal of Health Review, outubro de 2019.


ZIEGLER, Thomas. Nutrição Moderna de Shils na Saúde e na Doença, 11ª edição. Manole, 2016.


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