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Você conhece o guaraná?

  • Patricia Dias de Jesus
  • 10 de dez. de 2023
  • 4 min de leitura


O guaraná, cientificamente denominado Paullinia cupana e popularmente conhecido como guaranazeiro, é um fruto nativo da região amazônica e conhecido e utilizado por povos indígenas na região amazônica muito antes da chegada dos colonizadores europeus.

 

Alexander von Humboldt, um explorador e naturalista alemão, viajou extensivamente pela América do Sul entre 1799 e 1804. Durante sua expedição, ele estudou a flora e fauna da região e fez várias observações sobre o guaraná. Entretanto, ele não foi o responsável por "descobrir" o guaraná, pois esse conhecimento já existia entre as tribos indígenas do município agora chamado de Maués. Os frutos do guaraná são cápsulas vermelho-alaranjadas com sementes pretas, parcialmente cobertas por arilos brancos. A aparência peculiar do fruto parcialmente aberto lembra globos oculares, contribuindo para a lenda sobre a origem do guaraná, associada aos índios Maués.

 


Segundo o mito, um Deus malévolo atraiu um filho querido da aldeia para a selva, matando-o por ciúmes. A comunidade encontrou a criança morta na floresta, e um Deus benevolente consolou a aldeia com um presente em forma de guaraná. O olho esquerdo da criança foi arrancado e plantado na mata, tornando-se a variedade silvestre do guaraná. O olho direito foi plantado na aldeia, brotou e produziu frutos semelhantes a um olho de criança. Por isso, é considerado sagrado pelos índios da região, e o guaraná era utilizado na forma de pasta como remédio. Suas flores pequenas e brancas se transformam em um fruto com casca vermelha, polpa branca e sementes, lembrando um olho.

 

O Brasil é líder mundial na produção de guaraná, emprega principalmente o material vegetal na indústria de refrigerantes, além de encontrar aplicação nas áreas cosmética e farmacêutica. Embora a região Amazônica tenha a maior área de cultivo, a Bahia desponta como o principal produtor nacional, respondendo por 71%.

 

Cultivado e utilizado pelos índios brasileiros por séculos, o guaraná tradicionalmente tem suas sementes aplicadas dissolvendo o pó da semente torrada em água, isoladamente ou combinado com outros fitoterápicos. Atualmente, é explorado comercialmente, especialmente na indústria de refrigerantes, mantendo sua relevância também nas áreas cosmética e farmacêutica.



O guaraná é reconhecido por suas propriedades estimulantes, principalmente nas sementes, comercialmente valiosas. É considerado um "alimento funcional" devido ao seu alto teor de cafeína (40-80 mg por grama de extrato de guaraná), acompanhado de teobromina e teofilina, - substâncias estimulantes - além de taninos, saponinas, polissacarídeos, proteínas, ácidos graxos e oligoelementos como manganês, rubídio, níquel e estrôncio. Rico em metilxantinas, destaca-se a cafeína, associada ao aumento da função cognitiva e gasto energético, com possível duração diferenciada devido às interações com saponinas e taninos.

 

Além disso, as sementes de guaraná são fontes de polifenóis, amido (60%), pectina e outros elementos. Seus benefícios à saúde não se limitam à cafeína, pois o alto potencial antioxidante, especialmente devido aos taninos (12%), contribui para características adstringentes. Esses taninos formam complexos com a cafeína, resultando em um efeito estimulante até duas vezes mais prolongado do que em bebidas equivalentes, como chá ou café.

 

A composição química do guaraná também inclui as metilxantinas, flavonoides como catequinas e epicatequinas, e pró-antocianidinas, oferecendo potencialidades em biodisponibilidade de metilxantinas e impactos positivos na saúde humana como a redução da fadiga crônica, a perda de peso e gordura a curto prazo, além de potenciais efeitos protetores contra distúrbios metabólicos. O guaraná também demonstra propriedades antiinflamatórias, antioxidantes, anticancerígenas e hipocolesterolêmicas, contribuindo para uma compreensão abrangente de seus benefícios à saúde.

 

O guaraná, além de suas propriedades estimulantes, tem sido objeto de estudos e aplicado na produção de pós, xaropes e refrigerantes. Reconhecido por suas virtudes diuréticas, melhoria do cansaço físico e mental, estímulo imunológico, regulação da pressão sanguínea e contribuição para a redução da obesidade, o guaraná se destaca como uma fonte multifacetada de benefícios.

 

Seu potencial antioxidante, rico em catequinas, atua na prevenção do envelhecimento, enquanto a influência do composto bioativo teobromina favorece a saúde cardiovascular. A capacidade do guaraná em contribuir para a concentração e foco é atribuída aos compostos bioativos teobromina e teofilina, impactando positivamente áreas do cérebro relacionadas à atenção e raciocínio.

 

Alguns produtos vegetais e fitoterápicos, comercializados como suplementos alimentares, são considerados seguros, mas essa percepção pode ser enganosa, especialmente quando combinados com medicamentos prescritos, de venda livre ou outras ervas. Esses produtos, com potenciais efeitos colaterais como estimulação e propriedades alucinógenas, são amplamente utilizados, inclusive em suplementos dietéticos para perda de peso que fazem alegações de eficácia. A falta de dados sobre a toxicidade e eficácia, mesmo dos ingredientes predominantes, é motivo de preocupação.



O guaraná em pó está disponível em lojas naturais e online, sendo comercializado individualmente ou em combinação com outros fitoterápicos, o que pode resultar em efeitos aditivos ou sinérgicos. Além de ser utilizado em  bebidas energéticas encontradas em academias e supermercados.

 

A ingestão prolongada dessas bebidas energéticas, que têm guaraná como componente, pode causar alterações significativas no sistema cardiovascular e até convulsões. A adição de guaraná a essas bebidas aumenta a quantidade de cafeína metabolizada. Eventos adversos associados ao consumo de guaraná incluem irritabilidade, palpitações cardíacas, ansiedade, distúrbios do sistema nervoso central e mioglobinúria. O guaraná pode exacerbar crises epilépticas, diminuindo o limiar convulsivo ou prolongando a duração das crises.

 

Apesar desses relatos, o consumo isolado de guaraná geralmente apresenta poucos efeitos adversos, semelhantes aos observados com produtos ricos em cafeína, e a dose diária segura reconhecida para adultos é de 400 mg.

 

O guaraná, portanto, não só apresenta benefícios diretos, mas também requer uma abordagem consciente e personalizada para otimizar seus efeitos desejados.

 

Referência bibliográfica:

 

de Araujo, D. P., Pereira, P. T. V. T., Fontes, A. J. C., Marques, K. D. S., de Moraes, É. B., Guerra, R. N. M., & Garcia, J. B. S. (2021). The use of guarana (Paullinia cupana) as a dietary supplement for fatigue in cancer patients: a systematic review with a meta-analysis. Supportive care in cancer : official journal of the Multinational Association of Supportive Care in Cancer, 29(12), 7171–7182. https://doi.org/10.1007/s00520-021-06242-5

Hack B, Penna EM, Talik T, Chandrashekhar R, Millard-Stafford M. Efeito do guaraná (Paullinia cupana) no desempenho cognitivo: uma revisão sistemática e meta-análise. Nutrientes 2023;15:434. https://doi.org/10.3390/nu15020434.


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