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Patricia Dias de Jesus

Você conhece os FODMAPs?


Como se sabe, os alimentos in natura têm o poder de induzir a alterações no funcionamento o organismo das pessoas de forma global, logo têm sido alvo de constante investigação científica verificando os benefícios do consumo conforme suas propriedades.

Existe uma categoria especial de carboidratos de absorção lenta ou mesmo indigeríveis que frequentemente estão associados a manutenção de uma microbiota saudável e consequente bom funcionamento intestinal. Esses carboidratos estão presentes em alimentos saudáveis como frutas, legumes, verduras, oleaginosas e produtos lácteos que estão presentes no dia a dia da alimentação humana. Entretanto, algumas categorias derivam do consumo de produtos ultraprocessados como o uso de polióis em alguns alimentos industrializados e adoçantes artificiais.


Na década de 1980 e 1990, estudos apontando a lactose, a frutose e o sorbitol como possíveis substâncias responsáveis no diagnóstico de inchaço abdominal, diarreia e flatulência em pacientes com doenças gastrointestinais, todavia, as pesquisas ampliaram o espectro de alimentos que impactam no tratamento incluindo os frutanos e galactanos.

O conjunto desses componentes deu origem ao termo FODMAP que é um acrônimo em inglês que representa “Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides And Polyols”, e em português se chamam oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis. Essas moléculas se referem a uma categoria de carboidratos de cadeia curta, com grande absorção de água e altamente fermentáveis que contam com um processo digestivo mais lento que pode resultar em desconforto distensão abdominal, gases, diarreia, constipação e dores abdominais se consumidos em altas doses ou por indivíduos que possuem maior sensibilidade a alimentos que contém esses nutrientes.


Os FODMAPs presentes nos alimentos, portanto, passam sem modificações pelo trato disgestório e alcançam o intestino onde servem de de alimento a microbiota intestinal.


Com o avanço da medicina tornou-se possível reconhecer a existências de alergias alimentares, cuja abordagem terapêutica se dá por meio do uso de dietas de exclusão (que restringem a presenças de alguns alimentos) com o intuito de minimizar ou mesmo eliminar sintomas indesejáveis provocados por alguma intolerância alimentar.


Mas nem tudo é tão simples, a popularização do uso de dietas sem lactose, sem glúten e low FODMAPs alteram o microbioma intestinal dos indivíduos além de ser muito comum a ocorrência de quadro de desnutrição se não aplicadas de forma correta considerando a individualidade biológica de cada indivíduo.


A abordagem nutricional da retirada de grupamento alimentar tem base robusta na literatura científica, mas deve ser realizada mediante aconselhamento nutricional adequado para minimizar os efeitos negativos e conseguir adequar os nutrientes necessários para manter a homeostasia corporal em níveis adequados. Ademais, os protocolos usados necessitam de um intervalo de tempo adequado e disciplina para atingir os efeitos pretendidos no paciente. A restrição é realizada por um lapso temporal com posterior reinserção gradual desses alimentos respeitando os níveis de tolerância aos alimentos investigados.


Alimentos ricos em FODMAPs não são responsáveis pela ocorrência dos distúrbios gastrointestinais e da síndrome do intestino irritável, mas na presença dessas patologias, esses carboidratos exacerbam seus sintomas. Como não são adequadamente absorvidos no intestino delgado, os resíduos ficam disponíveis para absorção pelas bactérias intestinais e o produto do metabolismo dessas bactérias resultam na produção de gases que provocam estufamento abdominal e flatulência nos indivíduos mais sensíveis.


Quais carboidratos são considerados FODMAPs?


Em oligossacarídeos estão divididos em: Fruto-oligossacarídeos - FOS (ou Frutanos) e Galacto-oligossacarídeos - GOS (ou Galactanos).


No grupo dos frutanos tem-se destaque para a rafinose - trissacarídeo composto da união de uma molécula de frutose, de galactose e de glicose.


De modo geral, os FOS estão presentes na beterraba, na alcachofra, nos aspargos, na chicória, na banana, no tomate, no alho, no trigo, na cebola, na batata yacon entre outros.


Já os galactanos ou GOS tem-se destaque para a estaquiose - tetrassacarídeo composto pela combinação de duas moléculas de galactose, uma glicose e uma frutose - está presente em muitos vegetais e leguminosas como feijão verde, lentilha e soja e outros feijões.


E ainda que sejam considerados açúcares, seu sabor é menos doce do que o sabor da sacarose, assim é bastante utilizado em massas como edulcorante.


Na família dos dissacarídeos, o maior destaque é para a lactose, que está contida no leite e seus produtos derivados. A lactose comumente não é tolerada em indivíduos que não possuem a presença da lactase - enzima responsável pela degradação da lactose no organismo.


Já a maltose é representada pela união de duas moléculas de glicose e é a principal molécula que compõe o malte presente em vegetais, com função energética. É usado na fabricação de pães e fabricação de cerveja. Também tem-se a sacarose - união de uma glicose e uma frutose - que é o principal componente do açúcar de mesa.


No grupo dos monossacarídeos temos a frutose que consiste no açúcar presente naturalmente nas frutas e a galactose que é um açúcar presente no leite.


Por fim, tem-se os polióis que consistem em álcoois derivados de açúcares que estão presentes em frutas com caroço como pêssegos, ameixas, damascos, nectarinas, abacate, cerejas e tbm na forma de adoçantes (substitutos para o açúcar de mesa) como o manitol, sorbitol, xilito e ertritol.


A indústria alimentícia atual vem desenvolvendo produtos que atendem as necessidades de consumo dos grupos que possuem algum tipo de intolerância. Assim é necessário reforçar a educação nutricional no que se refere à leitura de rótulos para verificar os ingredientes contidos em produtos industrializados. Também há a existência da certificação global FODMAP friendly garantindo produtos com teores reduzidos de carboidratos fermentáveis por meio de análises laboratoriais, o que permite maior variabilidade na dieta a pessoas que possuem problemas intestinais associados aos FODMAPs.


Para os indivíduos que apresentam intolerância a esses carboidratos, a recomendação conforme a certificação global FODMAP friendly é aplicar uma alimentação mais baixa em FODMAP que permite tolerância a quantidades moderadas de frutanos e galactanos. Nesse sentido, é indispensável a participação de um profissional nutricionista para que não haja desequilíbrios nutricionais que comprometam a saúde.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


Pensabene, Licia et al. Low FODMAPs diet for functional abdominal pain disorders in children: critical review of current knowledge, Jornal de Pediatria. 2019, v. 95, n. 6 , pp. 642-656. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jped.2019.03.004


Popa, SL; Dumitrascu, DI; Pop, C.; Surdea-Blaga, T.; Ismael, A.; Chiarioni, G.; Dumitrascu, DL; Brata, VD; Grad, S. Dietas de Exclusão em Dispepsia Funcional. Nutrients 2022 , 14 , 2057. DOI: https://doi.org/10.3390/nu14102057


Vandeputte, D.; Joossens, M. Efeitos de dietas com baixo e alto teor de FODMAP na composição da microbiota gastrointestinal humana em adultos com doenças intestinais: uma revisão sistemática. Microorganisms 2020 , 8 , 1638. DOI: https://doi.org/10.3390/microorganisms8111638


FODMAP - Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/FODMAP


Estaquiose - Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Estaquiose


Rafinose - Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Rafinose


Maltose - Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Maltose


Intolerância aos carboidratos - Disponível em: https://saudeavancada.com.br/intolerancia-aos-carboidratos/


O que é FODMAP? Conheça a dieta, alimentos e para que serve - Disponível em: https://blog.livup.com.br/dieta-fodmap/


FODMAP: Conceito, dieta e recomendações - Disponível em: https://www.essentialnutrition.com.br/conteudos/fodmap/

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